terça-feira, 7 de março de 2023

Greve no setor da saúde na Guiné-Bissau com adesão de 85% - sindicalista

A greve no setor da saúde, hoje iniciada na Guiné-Bissau, está com uma adesão de 85%, disse hoje à Lusa Yoyo João Correia, porta-voz da Frente Social, que reúne quatro sindicatos dos setores da saúde e educação.

"Em relação à greve, segundo os dados que conseguimos juntar até aqui, podemos dizer que a greve vai bem. O setor da saúde tem tido mais adesão à greve, com cerca de 85%”, afirmou o sindicalista.

“No setor da Educação é que estamos com uma adesão um pouco baixa. Cerca de 70%, mas também devemos compreender tendo em conta este regime de autogestão das escolas, ou seja, a maioria das escolas são geridas pelas comunidades que pagam aos professores, logo acabam por não ter necessidade de aderir à greve. Mas continuamos a monitorar a greve”, salientou.

Os sindicatos guineenses de Saúde e da Educação iniciaram hoje uma greve geral de cinco dias para reivindicar o cumprimento de acordos assinados com o Governo em novembro passado.

Segundo João Correia, o “Governo nunca mais deu respostas” às exigências dos dois sindicatos sobre vários pontos acordados em novembro, nomeadamente o pagamento de subsídios de vela, de giz e de isolamento aos profissionais dos dois setores.

O subsídio de vela é pago aos profissionais da saúde que prestam serviços fora do horário normal, o de giz é pago aos professores para minimizar o efeito de contacto com aquele material tóxico e o de isolamento é dado aos profissionais que são colocados em zonas recônditas do país.

A Frente Social também reclama do Governo uma solução para a medida decretada pelo executivo em 2022 de estancar a entrada de novos funcionários nos setores da Saúde e da Educação, alegando um compromisso nesse sentido com as instituições financeiras internacionais.

“Mais de mil profissionais foram retirados dos dois setores”, defendeu o porta-voz da Frente Social.

Yoyo João Correia afirmou que esta medida “tem tido efeitos nefastos” na Educação e na Saúde, com “vários centros de saúde e escolas sem profissionais”, disse.

“Há situações em que nalguns centros de saúde são os Agentes de Saúde Comunitária que acabam por prestar assistência à população por falta de pessoal qualificado”, observou o sindicalista.

Agentes da Saúde Comunitária são pessoas escolhidas nas comunidades e que recebem algum treino para primeiros socorros em caso de necessidade de assistência médica.

Os sindicatos exigem ainda ao Governo que adote medidas que acabem com as “nomeações políticas”, respeitando a lei do país que ordena que os diretores de serviços sejam colocados através de concursos públicos.

Yoyo João Correia disse ainda ser outro motivo da greve a decisão do Governo em bloquear os salários de profissionais dos dois setores que atualmente se encontram no estrangeiro em processos de mestrado ou doutoramento, por conta própria.

Também explicou que a greve visa “pressionar o Governo” para que adote medidas para a uniformização do currículo escolar nas escolas públicas e ainda de protocolos médicos nos hospitais do país.

“Cada instituição a nível da saúde adota o seu próprio protocolo particular”, afirmou João Correria, para quem esta situação coloca em risco a saúde da população.

O sindicalista lamentou que a Frente Social não tenha sido contactada pelo Governo, desde novembro, mesmo tendo entregado o caderno reivindicativo em janeiro e o anúncio da greve em fevereiro passado.

Contactado pela Lusa, fonte da direção do Simão Mendes, em Bissau, principal hospital do país, disse que a greve não é sentida naquela unidade, onde, afirmou, os serviços funcionam normalmente.
Lusa, 07/03/2023

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