quinta-feira, 18 de abril de 2013

O imperativo da esperança para a Guiné-Bissau mas com medo de ser um estado falhado 

Durante uma entrevista concedida ao Portal África 21, o diplomata timorense, José Ramos Horta, actual representante do Secretário Geral da ONU na Guiné-Bissau, disse estar ciente das dificuldades da sua missão, mas acredita que desta vez, com maior implicação da comunidade internacional, o país poderá virar a página da violência e da instabilidade. Com a condição das elites políticas guineenses se entenderem e aceitarem a ideia de um Governo inclusivo após as eleições gerais.
“A chave do futuro do país está nas mãos do povo e dos seus líderes. Hoje têm uma oportunidade única de ultrapassar os erros do passado e de procederem a um virar de página.
Estou relativamente otimista, que com mais diálogo, com mais concertação com a ONU e desta com os outros parceiros internacionais, encontraremos uma estratégia comum para retirar a Guiné do ciclo de violência e de instabilidade. A situação guineense não é assim tão complicada, comparada com o Mali e a Somália. Depois da minha primeira semana de encontros em Bissau, em todas as capitais onde a seguir estive para harmonizar posições com os outros parceiros, constatei uma real vontade de apoiar a Guiné-Bissau. O secretário-geral das Nações Unidas, mesmo com as sérias preocupações relativas ao Afeganistão, Síria, Mali e à RD do Congo, ainda arranja tempo para procurar uma solução para a crise guineense. Tenho a sensação que os principais atores da crise, a classe política e os militares, parecem cansados e desgastados por estes constantes problemas. Assim, creio que a Guiné-Bissau possui um grande potencial para se tornar um oásis de paz e de prosperidade na sub-região. É certo que as suas Forças Armadas são pobres e desorganizadas e que o Estado é frágil e minado pelo narcotráfico, mas não enfrenta um conflito étnico-religioso nem a violência existente na Líbia ou no Mali. Vamos intensificar o diálogo e pensamos lançar os fóruns SRSG, isto é, debates temáticos promovidos pelo representante especial do secretário-geral das Nações Unidas sobre questões como a reforma e modernização das forças de Defesa e Segurança ou o papel da sociedade civil na democracia. Tencionamos ainda propor uma sessão aberta, em que queremos desafiar os guineenses a encontrarem um tema da sua escolha, algo nobre, consensual e com capacidade mobilizadora, como foi a luta de libertação nacional. Cabe agora aos intelectuais refletirem sobre esta proposta.
Em relação à difícil relação entre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e os actuais dirigentes do país, Ramos Horta disse que se a comunidade lusófona for coerente com a preocupação que manifesta com a crise e quiser ser solidária com o país, convinha de facto ter alguém no país. Por exemplo, uma personalidade de elevado perfil, ex-governante ou um general na reserva, disponível para assistir o país até à sua estabilização. Apesar da atual tensão com a Guiné-Bissau, a CPLP tem uma simpatia genuína pela Guiné-Bissau e alguns dos seus membros, como Brasil, Angola e Moçambique, têm recursos suficientes para sustentar este posto. Eu é que convidei o embaixador Murargy para vir tomar parte na reunião de reflexão e de concertação dos parceiros, incluindo os bilaterais, como Espanha, China e Rússia, a fim de adotarmos uma posição conjunta sobre o calendário político da transição, designadamente a questão da formação do Governo alargado. Cada parceiro identificará a área em que focalizará o seu apoio.

No ambito dessa preocupação Ramos horta em Maputo, manifestou que o país está a "um passo" de se tornar um "Estado falhado", caso a instabilidade não tenha uma solução nos próximos tempos.
Falando aos jornalistas no final de uma audiência com o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), José Ramos-Horta descreveu a situação guineense como sendo de "extrema precariedade".
"Se o Estado existe para dar segurança, tranquilidade, saúde, educação, justiça às populações, então aí vemos que há extrema precariedade na Guiné-Bissau, daí para um Estado falhado é um passo", disse.
Ramos-Horta e Armando Guebuza discutiram a crise guineense. Segundo José Ramos-Horta, o presidente da CPLP "prometeu estudar e encontrar formas de, no quadro da CPLP e da União Africana, tentar contribuir mais ainda do que já tem feito para ajudar a resolver o problema da Guiné-Bissau".
O antigo Presidente timorense acrescentou que a situação da Guiné-Bissau "continua extremamente delicada pela ausência de um roteiro político por parte da Assembleia Nacional, do Presidente interino, Governo e todos os intervenientes que indiquem luz ao fim do túnel visando à formação de um Governo mais incluso, com a participação do PAIGC".
"Não há nada em vista que nos garanta que esta situação vai ser resolvida nos próximos tempos", até porque, "por exemplo, não há data para a realização de recenseamento eleitoral, eleições presidenciais e legislativas até ao fim do ano, como foi prometido pelos guineenses aos chefes de Estado da CEDEAO", disse o responsável pelas Nações Unidas na Guiné-Bissau.
Contudo, referiu Ramos-Horta, "há razões para otimismo", até porque "a Guiné-Bissau não é uma Somália, não é Congo, é de muito menor dimensão, há apenas um impasse político. O Estado existe nominalmente e, por outro lado, há um povo magnífico, que, apesar de multiétnico, multilinguístico, multirreligioso, nunca houve guerras por causa destas diferenças".
De resto, disse, "o povo da Guiné-Bissau tem dado grande exemplo de civismo e é triste por quase vive alheio e desconetado com a elite política e militar", pelo que "as Forças Armadas têm que ser totalmente reorganizadas".
José Ramos-Horta garantiu que o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, está "totalmente sensível ao problema e está muito bem informado", sobre 
a crise guineense. "O que é necessário agora é sensibilizar o Conselho de Segurança a fazer muito mais para evitar o pior na Guiné-Bissau", apelou.
Rádio Vaticano/ África 21/Diário de Notícias - 17 de Abril de 2013

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