quarta-feira, 30 de abril de 2014

Instantâneo cartográfico com a síntese dos resultados definitivos

A revelação clara de competência, espírito de nacionalismo e muito amor a pátria deu motivos de um trabalho árduo mas muito profissional para levar uma compreensão e sem restea de dúvidas sobre os resultados das eleições do passado dia 13 de Abril .

José Fernando Gomes é o autor de um trabalho cartográfico com síntese dos resultados definitivos ja publicados.

Começo por dois mapas de contextualização. Nos mapas apresentados, os círculos do Sector Autónomo de Bissau (24 a 29) encontram-se representados e numerados à parte, tal como os da Diáspora (22 e 23), esses separados pela óbvia descontinuidade geográfica. Apresento, para começar, o número de mandatos por círculo, para dar uma ideia da sua importância relativa.
Note-se que esta estrutura demográfica de mandatos por círculo, à vista da evolução da população, se revela bastante desactualizada e distorcida. Os eleitores dos círculos a vermelho, no mapa seguinte, elegem 4 vezes mais deputados per capita do que os eleitores do círculo 29, e entre o dobro ao triplo dos círculos eleitorais a verde.

Para cada mapa (à excepção dos últimos três para os quais a escala é comum, sendo comparáveis entre si) adoptei uma escala própria dividida em sete classes representada por tons, seguindo estes uma ordem cromática de gradação, do vermelho ao azul, passando pelas cores intermédias. O preto assinala a ausência de dados. As quebras nas classes foram decididas atendendo casuisticamente aos vários critérios plausíveis, como equilíbrio entre as classes e maximização da distância entre intervalos.

Em princípio, deveriam existir o mesmo número de votos em ambas as urnas: no entanto, esse foi o caso apenas nos círculos 17 e 22, existindo nos outros, salvo algumas excepções, pequenas diferenças. As excepções são o círculo 4, devido a um erro grosseiro cometido, bem como: o círculo 2, com uma diferença de mais de mil votos; o círculo 13 (com cerca de 900); e, em menor escala, o círculo 5 e o 19 (em torno de 400), a favor das presidenciais, apresentando-se maior a abstenção nas legislativas. Os valores da abstenção rondam, no total nacional, os 10,7% para as presidenciais e os 11,4% para as legislativas.

Optamos por apresentar a abstenção num único mapa síntese, referindo-se à média para as duas eleições, de cerca de 11,1%, ou seja, uma taxa média de participação de 88,8%. As maiores taxas de abstenção ocorreram na Diáspora. O círculo 4 não foi representado devido ao erro nos resultados definitivos divulgados pela CNE (e até à data de 30 de Abril, ainda não corrigido).
Houve, nestas eleições, um acentuado crescimento dos votos inválidos, notando-se mais nas legislativas, com 5,2% de nulos e 9,4% de brancos, do que nas presidenciais, com 3,3 e 5,7%, respectivamente. Nas legislativas, os votos nulos (um total de 22.982) representam proporcionalmente mais do dobro daqueles registados nas eleições de 2008 (2,4%), e os votos brancos (total de 39.732), quase o triplo (3,2% em 2008).
Note-se que este tipo de votos inválidos, apresenta, no sector autónomo de Bissau, valores médios bastante mais baixos: nas presidenciais, 1,8% contra 3,3% de média nacional nos votos nulos e 1,9% contra 5,7%, nos votos brancos (um terço da média nacional).
Inversamente, a maior prevalência, tanto de votos brancos como de nulos, tanto nas eleições legislativas como presidenciais, ocorre no Norte e no Leste do País, onde o PAIGC se revelou em perda de velocidade.
No sector autónomo de Bissau, valores bastante mais baixos que a média nacional também nas legislativas, 3,6%, na média dos seis círculos, contra 5,2% de nulos na média nacional e 3,9% contra 9,4%, no tocante aos votos brancos.
José Mário Vaz obteve o primeiro lugar nas presidenciais, com 40,9% dos votos expressos. Conseguiu os seus melhores resultados em Bissau, com dois círculos acima dos 60%.
No entanto, Nuno Nabiam, com 24,8% dos votos, obrigará o primeiro a uma segunda volta, que se realizará a 18 de Maio. Conseguiu os seus melhores resultados no sul da região do Oio, com dois círculos acima dos 60%.
Em terceiro lugar, vendo-se assim excluído da contenda, posicionou-se Paulo Gomes, com 10,4% dos votos, conseguindo apurar mais de 40% em dois círculos, revelando uma boa aceitação na Diáspora, acima de Nuno Nabiam, com relativamente fraca votação na Europa.
O PAIGC registou a maior votação na Europa, embora haja quem tenha apontado o dedo a um deficiente recenseamento nesse círculo, que poderá ter enviesado os resultados; no entanto, trata-se, nesse caso, de apenas um mandato. Note-se que a maioria dos partidos minoritários foi impedida de concorrer, por decisão do Supremo Tribunal, nos dois círculos da Diáspora. Foi utilizado um boletim de voto padrão para todos os círculos, não individualizando a matriz própria de votação de cada um, o que foi criticado a justo título pela Presidente do PUSD, Carmelita Pires, como uma ilegalidade no processo. Essencialmente, os melhores resultados são obtidos em Bissau, onde o PAIGC obtém quatro quintos dos deputados, 16 num total de 20 mandatos. O PAIGC contou com 48% do total nacional de votos expressos.
O PRS, por sua vez, contou com 30,8% dos votos a nível nacional. As piores votações registaram-se no círculo Europa e em Bissau; as melhores registaram-se no seu bastião do sul da região do Oio, onde recolhe cerca de dois votos em cada três.
Apresenta-se ainda, a título ilustrativo, o total dos partidos minoritários, que chega a ultrapassar os 50%, no círculo 18, representando uma certa insatisfação com o actual sistema, especialmente sentida na parte leste do país. O sector autónomo de Bissau apresenta dos valores mais baixos a nível nacional, com valores apenas entre 7,8 e 11,3% nos seus seis círculos, para a soma dos partidos minoritários.

Finalmente, apresento uma série de três mapas, com a particularidade de serem comparáveis entre si, com uma legenda comum. Trata-se da variação relativa, tomando por base as eleições de 2008. Os círculos da Diáspora (22 e 23) não tiveram votação em 2008, por isso foram excluídos desta série de mapas.
Variação relativa em percentagem = (Votos em 2014 / Votos em 2008 - 1) x 100
Há um mapa para cada um dos partidos maioritários, o PAIGC e o PRS. Na escala apresentada, o maior valor 190%, registado no círculo 17, significa que o PRS quase triplicou a sua votação, naquele círculo (100 + 190 = 290%). Apresentam-se depois os dados do total de partidos minoritários: nestas eleições saiu reforçado o bipartidarismo, destacando-se a progressão do PRS, não só à custa do PAIGC, mas também dos partidos minoritários, que não conseguiram apresentar uma alternativa credível para o eleitorado, eventualmente, como apontou Carmelita Pires, pela sua divisão em pequenos partidos e consequente dispersão dos votos.



José Fernando Gomes
Licenciado em Estatística e Gestão da Informação pela Universidade Nova de Lisboa

2 comentários:

  1. twitter.com/bissaupolitiX

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  2. Caro amigo: podemos comunicar aqui franciscoleandro@cityu.mo Obrigado
    Francisco Leandro (Macau)

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