Maçarico. Ave que voa da Islândia à Guiné-Bissau sem comer nem beber

Esta ave faz 6.000 quilómetros sobre o oceano sem consumir qualquer alimento e sem beber água, em esforço contínuo, durante cinco dias”, explicou à Lusa, José Alves, investigador do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (UA), que lhe chama um “voo incrível”.
Trata-se de uma “ponte muito estreita a que chamamos quase uma autoestrada entre o Ártico e as zonas tropicais, nos Bijagós”, arquipélago da Guiné-Bissau, detalhou.
O Maçarico, também conhecido em Portugal como Maçarico Galego (e com o nome científico Numenius phaeopus) “reproduz-se na Islândia, onde passa três meses por ano” e faz depois o voo direto para as ilhas Bijagós, na Guiné-Bissau, “onde passa sete a oito meses” — quando na Europa é inverno. As ilhas Bijagós servem para o pássaro se alimentar, antes de voltar a viajar para norte, desta vez com paragem na Irlanda e daí para a Islândia.
“É conhecimento fundamental que está sempre à frente do conhecimento aplicado e que nos permite compreender que conservar só aqui [na Guiné-Bissau] não faz sentido sem conservar na Islândia”, exemplificou José Alves.
O investigador integra a equipa internacional que está a preparar um novo projeto de estudo e preservação de aves no arquipélago dos Bijagós. Estima-se que as 80 ilhas e ilhéus da Guiné-Bissau no Oceano Atlântico sirvam de abrigo a mais de um milhão de aves que durante o inverno saem de vários países da Europa, um número que tem vindo a baixar.”Há um espetro de espécies que está a ser afetado”, referiu à Lusa, José Pedro Granadeiro, docente e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que integra a equipa.
Os cientistas procuram as razões para este declínio que se verifica noutros pontos do globo: Ainda não se percebeu se há problemas “nos sítios onde as aves se reproduzem, se nos locais onde param para se alimentar”, sublinhou. Com a realização de estudos mais detalhados ao longo dos próximos anos nas ilhas Bijagós, os investigadores vão tentar perceber “encontrar a chave para este declínio”, referiu José Pedro Granadeiro.
Com o projeto “vai haver investigação, mas também capacitação dos técnicos locais”, realçou Aissa Regalla de Barros, dirigente do Instituto de Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) do país. “Já é tempo de haver investigadores locais que possam acompanhar os técnicos externos”, realçou a coordenadora da área de biodiversidade do IBAP.
Rispito.com/Lusa, 05-12-2016
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