Conferência de Imprensa da Organização das Mulheres do PRS
Bissau, 9 de Fevereiro de 2018
Cussasdi Guiné i triste! O que se passa na Guiné é
triste.
Nós, as mulheres do PRS estamos indignadas: não aceitamos
as sanções aplicadas pela CEDEAO aos dirigentes do PRS e vimos por este meio
manifestar a nossa solidariedade para com eles.
Esta crise política, que já dura há imenso tempo e ainda não tem fim à
vista, teve início e mantém-se com um Presidente da República eleito pelo
PAIGC; com um Presidente da Assembleia Nacional Popular eleito pelo PAIGC; com
7 Primeiros-Ministros, todos do PAIGC. Estamos a falar de órgãos de soberania.
Falamos dos poderes presidencial, legislativo e administrativo, os quais são o
pilar do Estado e cuja LIDERANÇA, de 2014 aos dias de hoje, sempre esteve com o
PAIGC.
A origem, o epicentro, o fogo que politicamente incendiou
as instituições supremas do país nada têm a ver com uma Liderança do Estado pelo
PRS, ou com qualquer intriga ou problema interno do nosso Partido, mas sim,
única e exclusivamente, com problemas intestinos no seio do PAIGC. Com foco em
15 deputados do PAIGC e expulsos pelo PAIGC.
Ultimamente, para agudizar a crise, já vimos de tudo.
Assistimos a tentativas de assaltos da sede, ameaças de perseguições,
providências cautelares, decisões judiciais, fecho da sede, suspensão do
Congresso, reabertura da sede, etc. Tudo resvalando para as intermináveis
guerras políticas a que o protagonismo do PAIGC infelizmente já nos habituou,
nas quais os fins parecem justificar os meios, para finalmente quererem
revestir o papel de vítimas, como se não soubéssemos que são eles próprios os
principais instigadores e actores dessas crises cíclicas, nas quais o PRS se
tem limitado a fazer política, assumindo um papel secundário.
Nós, as mulheres do PRS, como cidadãs, não aceitaremos
que seja a Liderança da Crise a beneficiar com ela, num cenário político
carregado de muita malvadez e desinformação, no qual, após uma longa passividade,
só face à iminência de eleições e identificados os alvos a abater, a CEDEAO se
deixa manipular por alguns interesses políticos nacionais bem localizados e por
inconfessos lóbis estrangeiros. Vindo agora, de forma completamente parcial e
desequilibrada, sancionar dirigentes máximos do PRS que sempre agiram em nome
colectivo e no quadro de decisões políticas emanadas dos órgãos competentes do
Partido.
Qual a justificação invocada pela CEDEAO? O não
cumprimento do Acordo de Conacri.
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS por terem
participado num processo que se pretendia consensual para nomeação de um
Primeiro-Ministro, num encontro que teve 6
propostas de nomes (3 do PR, 1 do PANP, 1 do PAIGC, 1 da Sociedade
civil), nenhuma das quais avançadas pelo PRS, tendo desse processo resultado a
nomeação de um Primeiro Ministro da confiança do Presidente da República. Será
que o PRS e os seus dirigentes não cumpriram com o ponto 1 do Acordo de
Conacri?
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS, por terem
respondido à chamada e deliberado, superior e colectivamente, integrar o
governo inclusivo emanado de Conacri, com base no princípio da
proporcionalidade da respectiva representação parlamentar. Será justo criticar
o PRS por ter tomado uma atitude construtiva, quando a alternativa era o vazio
do Estado? Podem apontar-nos o dedo, por termos optado por preferir ser parte
da solução a ser parte do problema? Será que o PRS e os seus dirigentes não
cumpriram com o ponto 2 e 3 do Acordo de Conacri?
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS, que não
lideram o Governo, por não ter o PRS impulsionado um programa elaborado em MESA
REDONDA DE DIÁLOGO NACIONAL, do qual resultasse a adopção de um PACTO DE
ESTABILIDADE, e o arranque da implementação de um programa de desenvolvimento,
com base na visão do “Terra Ranka”, não obstante essa não ser a visão de
desenvolvimento do PRS. Como pode a CEDEAO condenar e sancionar dirigentes do
PRS, se estes se limitaram ao respeito pelos princípios em vigor para a
nomeação de altos funcionários da república? Ora tudo isso era obrigatoriamente
da iniciativa da liderança do Governo, a qual não pertencia aos dirigentes do
PRS; algo que previa a ‘inclusividade’, sistematicamente recusada pelos
dirigentes do PAIGC. Então, será que o PRS e os seus dirigentes impediram ou
não cumpriram com o ponto 4, 5 e com a alínea f do ponto 6 do Acordo de
Conacri?
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS, pela não
implementação das reformas assinaladas, nomeadamente da Constituição da
República, da lei eleitoral, da lei dos partidos políticos, e dos sectores da
Defesa, Segurança e Justiça. Como assim? Quem teria que convocar os deputados
da nação para a realização de sessões parlamentares, necessárias às reformas
legais e institucionais definidas no Acordo de Conacri? Será que o PRS e os
seus dirigentes impediram o cumprimento das alíneas b) a e) do ponto
6 do Acordo de Conacri?
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS por o
partido que dirigem ter mantido as portas sempre abertas para o diálogo com as
principais forças políticas e sociais; por ter sempre pautado a sua actuação
política com base na responsabilidade, na transparência e na tomada de decisões
institucionais (ponto 6, alínea a); subscrevendo o Acordo de Conacri,
contribuindo de boa fé para a sua implementação bem sucedida, assim como do
roteiro da CEDEAO (último parágrafo do Acordo); ou talvez, também, por
se mostrarem comprometidos com o Estado e com a população guineense?
O que desvirtuou o Acordo de Conacri, o seu espírito, as
suas regras e os seus pontos, resultando no seu incumprimento, foram
essencialmente três factos:
1)
a violação do princípio de integração no governo inclusivo;
2)
a violação do princípio de convocação da Assembleia Nacional Popular
para deliberar e legislar sobre as urgentes e necessárias reformas legais e
institucionais;
3)
a violação do princípio de uma reintegração efectiva e incondicional
dos 15 deputados dissidentes do PAIGC.
Ou seja, o Acordo de Conacri, resultado de uma mediação
pouco competente, em vez de contribuir para a resolução do impasse político no
país, como era sua intenção, teve resultados perniciosos e contraproducentes, e
como consequência um agudizar da disputa interna pela liderança do país,
hoje ainda e desde o inicio da crise, entregue ao PAIGC. Qual a sua justeza?
Como é possível que os mediadores invoquem como objectivo das sanções favorecer
um clima de diálogo, se penalizam apenas uma das partes, por sinal aquela que
está isenta de qualquer culpa ou responsabilidade? É como castigar
o cumpridor e poupar o prevaricador. Com que justiça?
A CEDEAO condena e sanciona dirigentes do PRS com os seguintes
fundamentos jurídicos:
▪
Com base nos artigos 11 e 12 do Protocolo relativo ao Mecanismo para a
Prevenção de Conflitos, Gestão, Resolução, Manutenção da Paz e Segurança, que
não enunciam quaisquer sanções, apenas se referem às reuniões dos seus
órgãos.
▪
Com base no artigo 45.º do Protocolo sobre a Democracia e Boa
Governança,que não direcciona as sanções a indivíduos, mas a Estados Membros,
no caso de quebra da democracia e em caso de violação maciça dos direitos
humanos.
▪
Com base no Acto Suplementar de 17 de Fevereiro de 2012, sobre o
regime de sanções aplicável aos Estados Membros que não honrem as suas
obrigações vis-à-vis da CEDEAO. O qual dispõe sobre Actos obrigatórios
(imperativos) a serem observados e executados pelos Estados-Membros; de
obrigações dos Estados-Membros; das sanções, quer judiciais quer políticas,
aplicáveis aos Estados-Membros. Neste diploma, visa-se a LIDERANÇA, os Líderes
(dirigentes) dos Estados Membros, os da cúpula e do topo da hierarquia do
Estado, os quais são passíveis dessas sanções, se atentarem contra a governação
democrática, o Estado de Direito, ou constituírem uma ameaça séria: à segurança
regional, de violação flagrante e grave dos direitos humanos, ou de desencadear
uma catástrofe humanitária.
Em Direito, a sanção é uma medida imposta com o objectivo de garantir
o cumprimento de uma norma. Perante a inexistência de norma aplicável aos
indivíduos, não pode haver violação, nem pode haver sanção.Perante esta
impossibilidade de direito, só é possível concluir que as sanções aplicadas
estão fora da competência da CEDEAO. Logo, devem ser consideradas nulas, senão
mesmo inexistentes.
A inclusão de um indivíduo nessas listas não pressupõe a sua
condenação em foro criminal ou qualquer processo judicial. Não assumindo a
forma de efeito criminal, a respectiva listagem não se submete aos princípios e
garantias que proporcionam os procedimentos judiciais. Na prática, todavia, os
efeitos são, a nível individual, semelhantes aos dessa condenação. No entanto,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo X institui o direito da pessoa à audição pública por
parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos
e deveres, e no artigo XI, ponto 1, os princípios
da presunção da inocência e capacidade de defesa.
Para além disso, esta listagem também não se baseia numa demonstração
inequívoca da associação do visado com a respectiva conduta. Não foi produzida
qualquer prova ou justificação, nem sequer sumária, para os motivos da inclusão
de cada um dos indivíduos listados, nem fundamentada a sua responsabilidade
relativamente à LIDERANÇA DO ESTADO.
Qual
dos dirigentes do PRS, condenados e sancionados pela CEDEAO, liderou o Estado,
podendo-se-lhe imputar esses crimes? Entre os sancionados, encontram-se apenas
políticos? Como é possível um Organismo Sub-Regional condenar e sancionar
politicamente dois magistrados da Nação? Não será uma interferência no poder
judicial soberano, cuja disciplina está a cargo do Conselho Superior de
Magistratura? Onde está a argumentação, a fundamentação e a prova mínima?
Acrescendo que: os condenados a sanções sem prazo, são previamente
informados em canais não oficiais, como se de fuga de informação se tratasse,
de dentro de uma Organização sub-Regional; não se lhes fornece qualquer
possibilidade de recurso ou de impugnação da sua inclusão na lista; sendo
sancionados junto com a família, sem se saber até que grau de parentesco; num
quadro de aplicação desadequado e improcedente, atendendo à escassez dos
elementos de identificação, face à multiplicidade de homónimos existentes; mas
também desproporcional, pois estas sanções políticas fizeram-se para violações
bem mais graves, de direitos humanos ou ameaças sérias de catástrofes
humanitárias e não para sancionar desentendimentos entre políticos, cuja
responsabilidade não pode ser individualmente assacada.
Nós, as mulheres do PRS, posicionamo-nos contra as
consequências imediatas das sanções da CEDEAO, que se traduzem na tentativa de
desvirtuar a democracia guineense, de silenciar a participação política, de
decapitar a 2.ª maior força política nacional, através de um obscuro mas bem
identificadoconluio, que envolve claramente a mediação com uma das partes, ou
seja, em que o árbitro também joga a favor de uma equipa. Tudo em sacrifício
persistente da soberania nacional, em prejuízo do Estado de Direito, em prol de
interesses pessoais e de hegemonia partidária.
Por tudo isto, nós, as mulheres do PRS:
▪
Apelamos ao bom-senso, ao equilíbrio, ao diálogo e ao entendimento
interno.
▪
Apelamos a todas as mulheres guineenses para avaliarem a situação com
justiça e para se juntarem contra a decisão da CEDEAO. Onde está a verdade?
Onde está a alternativa? Mulheres, sejamos uma única VOZ!
▪
Apelamos aos intelectuais guineenses para, sem preconceitos,
analisarem as nossas razões e aquilo que nos vai na alma.
▪
Apelamos à Conferência dos Chefes de Estado da CEDEAO para que
deliberem o levantamento imediato e
incondicional das sanções. Porque são inválidas, nulas e improcedentes. Por
respeito ao Estado de Direito, para criar uma atmosfera favorável ao diálogo
entre os actores políticos bissau-guineenses, para a realização de eleições
livres, idóneas e transparentes, para o retorno à legalidade constitucional e
para a restauração da governação democrática
▪
Apelamos à exclusão definitiva
do mediador da crise guineense, AlphaCondé. Porque, até hoje, não apresentou
prova idónea ou qualquer registo, de que tivesse sido escolhido em Conacri o
nome de Primeiro-Ministro que indica, a não ser a sua palavra, contra a de
vários outros intervenientes. Porque impendem sobre si suspeições de falta de
transparência e de falta de imparcialidade, na condução da mediação. Porque, de
uma mediação bem sucedida, não resultam sanções e um desfecho que visa
aniquilar a 2.ª maior força política, amputando a democracia na Guiné-Bissau.
▪
Apelamos à ONU, à UA, à UE, e à CPLP para apoiar o levantamento
imediato e incondicional das sanções, interpelando a CEDEAO nesse sentido.
Pela soberania nacional;
Pelo Estado de Direito;
Pela consolidação da
Democracia na Guiné-Bissau;
Pelo direito à dignidade
humana;
Pelo direito de cidadania;
Pelo direito de participação
política;
Pelo direito ao
desenvolvimento;
Pelo direito à renovação
social;
Por nós, mulheres, que somos
a arma secreta da Nação Guineense, e pelos nossos filhos e netos.
Pela Secretária Nacional da
Organização das Mulheres – Carmelita Pires
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