sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Entre aplausos e apupos, Sissoco Embaló foi a Lisboa dizer que conta com Portugal para o futuro

O Presidente da Guiné-Bissau iniciou esta quinta-feira (08.10) a sua primeira viagem oficial a Portugal com o intuito de iniciar uma parceria estratégica com o país. Analista considera visita a Lisboa "jogo político".
Umaro Sissoco Embaló chegou na quarta-feira (07.10) a Lisboa para a sua primeira visita oficial enquanto chefe de Estado guineense. Fá-lo num contexto de crise por causa do novo coronavírus, mas com o intuito de promover uma parceria estratégica mais ativa com Portugal.

Segundo o Presidente guineense, a Guiné-Bissau conta com o apoio de Portugal em todos os domínios, deixando para trás os períodos de crises cíclicas. "Nós desejamos construir com Portugal uma parceria especial e estratégica, cujos pilares pretendemos que fiquem definidos nesta visita. Sei que a ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, [Suzi Carla Barbosa], já teve um encontro com o seu homólogo português, o ministro do Estado dos Negócios Estrangeiros [Augusto Santos Silva]", referiu.

Umaro Sissoco Embaló reforçou junto do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o seu desejo em trabalhar com Portugal para a consolidação do Estado guineense. Para além de anunciar reformas profundas da administração pública, disse: "Vou falar com os empresários portugueses. A crise [política] na Guiné-Bissau ficou para trás. Há uma nova Guiné-Bissau. Convido os portugueses [no sentido] de incentivar essa parceria entre a Guiné-Bissau e Portugal", afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa assegurou a disponibilidade de Portugal em apoiar a Guiné-Bissau em todos os domínios, no plano bilateral e multilateral, apesar da atual conjuntura determinada pela pandemia da Covid-19. "Mas além da cooperação no domínio da saúde, que já se traduziu em julho e agosto numa presença portuguesa no país irmão da Guiné-Bissau, o que é facto é que há no domínio da cooperação linguística, educativa, cultural, económica, empresarial e social um mundo de iniciativas a desenvolver", sublinhou.

Manifestações pró e contra Umaro Sissoco
O primeiro dia de visita do Chefe de Estado guineense ficou marcado por manifestações à porta do Palácio de Belém, onde Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o homólogo. "É o Presidente de todos os guineenses. A partir do dia 27 de março, quando ele foi empossado, para mim, acho que foi o dia da verdadeira independência", disse Lassana Dabá, um dos apoiantes.

Também houve protestos contra a visita do chefe de Estado da Guiné-Bissau. "Viemos aqui reclamar que o Presidente de Portugal não devia receber os golpistas que assaltaram o poder. Estamos contra isso", afirmou à DW África o guineense Armando Barbosa.

Depois do almoço oficial com Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Guiné-Bissau e comitiva foram recebidos na Assembleia da República, ao que se seguiu um encontro, no final do dia, com o primeiro-ministro português, António Costa, que deverá visitar o país africano ainda este ano.

No Palácio de São Bento esteve em cima da mesa o incremento da cooperação considerada "excelente" entre os dois países, conforme antecipou a ministra guineense dos Negócios Estrangeiros, Suzi Carla Barbosa, em entrevista à agência Lusa. "Se tudo correr bem, antes do final do ano, o primeiro-ministro português vem à Guiné-Bissau e assinará o próximo PEC [Programa Estratégico de Cooperação]. Nesta visita, nós vamos propor a Portugal as áreas que nós consideramos prioritárias. É bom saber que com Portugal, trabalhamos sobretudo nas áreas da saúde e da educação, que também são prioritárias para a Guiné-Bissau", revelou.

"Jogo político"
Para o guineense Tamilton Teixeira, mestre em Sociologia, a escolha de Portugal para esta primeira visita de Estado a um país europeu faz parte do "jogo político" do Presidente guineense. 

"Ele tem as suas prioridades pela África francófona, porque é onde melhor se encaixa. Eu diria que talvez o Presidente Sissoco preferisse ser recebido nesta altura pelo Presidente Macron [de França] do que propriamente pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Mas enquanto a situação não se resolve do ponto de vista de uma visita oficial a França como Presidente da República, Portugal deve ser muito rapidamente [um parceiro] estratégico por conta daquilo que também foi a relação histórica, política e diplomática", comenta.

O colunista do jornal "O Democrata" diz que Umaro Sissoco Embaló precisa desta visita para deixar claro que a antiga colónia, hoje um Estado soberano, não quer colocar Portugal de lado. "Até porque Portugal é o reduto – se podemos assim dizer – do seu ex-adversário político na última eleição [presidencial]. Ele precisa de disputar este espaço por vários motivos", referindo-se ao facto de Domingos Simões Pereira ter escolhido Portugal para viver nos últimos meses.

Esta sexta-feira (09.10), o chefe de Estado guineense participou numa mesa-redonda com empresas portuguesas. E depois disso, Umaro Sissoco Embaló deslocou-se à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde tem lugar uma sessão solene com os representantes de todos os estados-membros da organização.
Na reta final da sua visita, encontrar-se-á no sábado (10.10) com a comunidade guineense.
Rispito.com/DW

3 comentários:

  1. Post – A. Keita, parte 1/2

    Esta atual dita visita oficial é uma VERGONHA. Um INSULTO contra o esforço e contra toda a luta de todas as forças vivas bissau-guineenses, de todo o espaço CEDEAO e, da África inteira, verdadeiramente democaticas.

    Porque?

    Resposta. Porque representam aquilo que ainda, na mentalidade de uma franja da gente da elite governante DESONESTA authoctone africana (Cif., Amilcar Cabral, 1978, Arma da teoria, p. 106), aliada a uma franja da gente da elite governante ocidental da mentalidade HEGEMONISTA, se pensa devendo continuar a marcar a carateristica essencial do funcionamento dos Regimes do Estado de Direito Democratico em África. Do Norte ao Sul. A saber, a MEDIOCRIDADE, em vez de, a EXCELÊNCIA.

    Porque se não, como é que o Presidente da República de um país eurpeu; membro do Conselho da Europa desde 1976; consequentemente, devendo ser o mais ferrenho defensor, na Europa e no mundo, de todos os valores inerentes aos princípios de um Estado de Direito Democrático; um Presidente constitucionalista de profissão e Professor universitário, ainda, pouco antes da assunção deste cargo no seu país em 09 de março de 2016; como é que alguém deste gabarito pode receber com todas as honras, em visita oficial, um autoproclamado Presidente da República; este aí tendo-se autoproclamado à revelia das leis do seu país. Como?

    Este Presidente de um país europeu, neste caso, de Portugal, na pessoa de Sr. Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa a receber com todas as honras, com muita probabilidade, em pleno conhecimento da causa, um autoproclamado Presidente da República de um país africano, neste caso, a Guiné-Bissau, na pessoa de um cidadão deste país de nome Sissoco; este, tendo-se recusado a se submeter por recurso ao uso da força (MANU MILITARI), quatro vezes, entre 11 de Janeiro e 07 de Setembro de 2020, a quatro Decisões da última instância dos tribunais do seu país; o STJ bissau-guineense.

    E como se tudo isso não bastasse, o Sr. Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa a desenrolar o tapete vermelho a este gazo do Sissoco, o autoproclamado Presidente da República da Guiné-Bissau, justamente, 4 dias depois de se ter utilizado a Presidência sob a sua regência (o Sissoco), como o local da partida das iniciativas do rapto e sequestro dos cidadãos e, sua barbara tortura pelo mais próxiomo pessoal do entourage deste mesmo Sr. Sissoco.

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  2. Post – A. Keita, parte 2/2

    Tudo isso acontecendo neste presente fim das primeiras duas décadas do s. XXI, com o conhecimento, pelos bem avisados e alinhados com o sentido e espírito do respeito irrestrito e aplicação escrupulosa dos princípios regentes do funcionamento democrático de todos os Países tendo construído e instalado os Regimes do Estado de Direito Democrático tal como o bissau-guineense, ainda jovem, a caminho, para também poder vir ser bem-sucedido; bem avisados e alinhados tais, perfeitos conhecedores, tal como o Sr. Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, das causas e consequências, por exemplo (comparado a este caso da utilização da Presidência bissau-guineense em como local da tortura dos cidadãos raptados e sequestrados), do “CASO WATERGATE”. O caso tendo levado o Presidente Richard Nixon dos Estados Unidos da América (USA), em 09 de Agosto de 1974, à renúncia do seu posto da Presidência. Pelo bem do funcionamento do Regime do Estado de Direito Democrático aí construído e instalado, na EXCELÊNCIA, em vez de, na MEDIOCRIDADE, PORCARIA. Estas duas caraterísticas agora aqui celebradas pelo Sr. Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa e seu convidado cidadão bissau-guineense, o Sissoco, o autoproclamado Presidente da República deste país africano.

    Tudo sabendo tratar-se do país africano em luta, sobretudo nos últimos 05 anos, com uma efervescência e intensidade extrema, pela construção e instalação definitiva e de maneira duradoira, finalmente, de um Regime do Estado de Direito Democrático bem-sucedido. Tal como existente em Portugal e em muitos outros países do mundo, sobretudo, europeus. Um incrível gesto, esta dita visita oficial e as respetivas imagens cá coladas. Incrível, uma vergonha e traição a luta do povo bissau-guineense nestes tempos.

    Obrigado.
    Pela honestidade intelectual, infalível...
    Por uma Guiné-Bissau de Homem Novo (Mulheres e Homens), íntegro, idôneo e, pensador com a sua própria cabeça. Incorruptível!
    Que reine o bom senso.
    Amizade.
    A. Keita

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  3. ERRATA: no texto "post - A. Keita, parte 1/2", ler na frase, em vez da fórmula, "Resposta. Porque representam aquilo que ainda, ...", esta outra, "Resposta. Porque representa aquilo que ainda, ...". Porque "representa", quer dizer, a visita oficial. Obrigado.

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