quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Governo de Cabo-Verde proíbe viagens oficiais à Guiné-Bissau

Durante uma conferência que realizou na presença de Pascal Lamy, Director-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Primeiro-ministro José Maria Neves desmentiu qualquer instrução governativa no sentido de proibir deslocações de funcionários do Estado à Guiné-Bissau.

No entanto, Fontes da PNN garantiram que o Governo aprovou, esta segunda-feira, 19 de Agosto, um despacho em que proíbe deslocações à Guiné-Bissau, por parte de todos os funcionários e agentes do Estado em missão oficial de serviço. A medida foi confirmada por fontes governamentais cabo-verdianas que não quiseram avançar pormenores.

A PNN constatou também que a decisão surgiu na sequência do agravamento da tensão entre a Praia e Bissau, que já levou à detenção pelas autoridades guineenses de dois agentes da Polícia Nacional de Cabo Verde.

As relações seculares entre os dois países «gelaram» desde o golpe de Estado de 12 de Abril,  Cabo Verde não reconheceu as autoridades saídas do golpe de Estado e cortou o diálogo «frequente» com a Guiné-Bissau.

Em Abril de 2013 o departamento anti-droga dos EUA (DEA) deteve em águas internacionais o contra-almirante guineense José Américo Bubo Na Tchuto, juntamente com outros quatro oficiais, sob a acusação de conspiração para fornecer armas à guerrilha colombiana FARC, armazenar cocaína da mesma organização terrorista, vender armas para serem utilizadas contra as forças norte-americanas e tentativa de colocar cocaína no mercado americano.

Bubo Na Tchuto e os quatro oficiais foram levados de barco para Cabo Verde, de onde seguiram minutos depois para os EUA, num avião da DEA. A colaboração de Cabo Verde «irritou» as autoridades de transição da Guiné-Bissau, que acusaram a Cidade de Praia de ser «mau vizinho».

A 12 de Julho, quando encetavam em viagem de regresso a Cabo Verde, dois polícias cabo-verdianos da Direcção de Migração e Fronteiras foram detidos pelos Serviços de Informação e Segurança da Guiné-Bissau, na sala de embarque do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau. Júlio Centeio Gomes e Mário Brito foram libertados a 30 de Julho, depois de 18 dias de detenção sem acusação formulada.

Na semana passada, o Chefe de Estado Maior das Forças da Guiné-Bissau, António Indjai, acusou Cabo Verde de ter assassinado a cidadã guineense Enide Tavares Soares da Gama, que recebeu pena acessória de expulsão do país depois de cumprir parte da pena a que foi condenada por tráfico ilegal de droga em Cabo Verde.

Segundo António Indjai, a «senhora que foi acusada de tráfico de droga em Cabo Verde, que dizem que deportaram para Bissau, na verdade foi assassinada», afirmou, acrescentando que «ninguém das nossas autoridades quis perguntar os verdadeiros contornos deste caso». 

A referida cidadã guineense foi deportada para o seu país de origem na companhia dos dois agentes da Direcção de Migração e Fronteira.

«Os agentes cabo-verdianos deviam ser levados à justiça para serem julgados mas, mais uma vez, deixámos escapar Cabo Verde. Não gostei nada disso. Não só violaram as nossas fronteiras como a rapariga que disseram que trouxeram não foi vista. Ela foi morta», acusou.

Instada pela Rádio de Cabo Verde sobre as acusações de António Indjai, a ministra cabo-verdiana da Administração Interna, Marisa Morais, negou tecer quaisquer comentários a esse respeito.

Citando duas fontes da Polícia Judiciária guineense, a Rádio de Cabo Verde noticiou que a referida cidadã foi vista nas instalações da Polícia Judiciária, na altura em que os dois agentes cabo-verdianos se encontravam detidos.

Segundo a mesma fonte, Enide Tavares Soares da Gama ter-se-á deslocado, nessa altura, às instalações da Polícia Judiciária guineense para visitar uma amiga que também se encontrava detida e foi então vista pelos dois agentes cabo-verdianos.
PNN - 20 de Agosto de 2013

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