Diversidade étnica e Religiosa na Guiné-Bissau
Flávio B. Ferreira |
Em
França, ao longo da última década, as questões da laicidade, de imigração, do
Islão, de Seitas Cristãs, Seitas Jihadistas, de Terrorismo, da Insegurança
Interna, do Aumento de Controlo das fronteiras que vem constantemente ao debate
público. As controvérsias em relação ao uso de véus, contestações de Peças de
Teatro ou de Obras de Arte Contemporânea, a perigosidade de certos “grupos
religiosos” sectários, que se opõem a certas caricaturas, construção de locais
de culto com fundos estrangeiros, actos e propósitos racistas, Anti-semita e Anti-muçulmano,
a recusa de integração de algumas Comunidades muçulmanas...
Estes
novos tipos de Conflitos Culturais, Dimensões Étnicas e Religiosas não são
específicos para a França, feridos e enlutados hoje em sua própria integridade
territorial. Estes novos antagonismos ameaçam a Coesão Social e a Integridade Nacional
em todo o mundo: Nigéria, Estados Unidos, Europa, Mali, Camarões, Costa do
Marfim, Tunísia,... Muito próximo do nosso país desde 16 de Novembro de 2015, o
nosso vizinho Senegal, um país com 95% de muçulmanos (Mas Laico) acabaram de
interpelar vários Imams envolvidos em projectos de atentado na qual as investigações
revelam que estes religiosos tiveram ligações com vários grupos Jihadistas que
operam no Sahel. Perante o activismo Islamista no Continente, o presidente
Senegalês, tomou a decisão de proibir o porte de Burca ou Niqab "em nome
do interesse público e da Segurança Nacional" desde 17/11/2015. Uma medida
que intervêm a quase seis meses após ter sido aplicado no Chade, Camarões e
Gabão por razões de Segurança.
No nosso país Guiné-Bissau, tendo
em conta a evolução da nossa sociedade, devemos evitar ou não a estes debates: da Diversidade Religiosa, Cultural e Étnica
um perigo ou uma riqueza? Como evitar estas radicalizações mortíferas das
identidades religiosas, políticas, culturais, económicas, sociológicas no nosso
país? Devemos hipocritamente manter o silêncio diante da proliferação das
mesquitas em cada canto da rua, sem conhecer a proveniência dos fundos financeiros
para a sua construção? Será que devemos fechar os olhos face a entrada e saída
em massa de emigrantes sem controlo nas nossas fronteiras? Será normal que a
linguagem Fula com nosso sotaque da Guiné-Bissau fosse substituída pelo sotaque
Fula da Guiné Conakry na região de Gabu? Qual é o papel do Estado nas suas
previsões estatísticas sobre a evolução da população migrante em relação à
capacidade de acolhimento, da integração e da educação no nosso país?
DA SOCIEDADE
TRADICIONAL PARA A SOCIEDADE INSTITUCIONAL E DEMOCRATIZADA
A"Guiné-Bissau, uma república soberana democrática,
e estritamente laica..." nenhum partido pode se identificar teoricamente
com uma religião ou grupo religioso, nem a uma forma
particular de culto nem de etnia a fim de evitar os conflitos de interesse que
possam resultar de tais práticas partidárias susceptíveis de pôr em causa a coesão
social e a integridade territorial da nossa nação. Ao mesmo tempo, o direito
fundamental da liberdade religiosa está inscrito na Constituição e protegida
pelo Estado que deve assumir plenamente o seu papel de Vigilância, de Controlo,
de Protecção e de Punição.
Oficialmente,
a maioria dos Estados africanos são laicos. Mas os governantes, não hesitam em
utilizar a religião para consolidar seus poderes, apelando a religiosidade
popular que continua a aumentar, independentemente de uma ou de outra religião.
Recentemente, temos sido capazes de experimentar na Costa do Marfim, onde a
influência Pentecostes era desproporcionada em relação à esposa do
ex-presidente Gbagbo que organizava reuniões de oração na Presidência.
Constatamos
também no Sul da Nigéria, onde o Cristão Evangélico é dominante, no Norte os
extremistas predominantemente muçulmanos exibem a Sharia uma fonte constante de
motins mortíferos e de conflitos políticos. Isto pode ser visto em quase todos
os países da África Subsaariana, incluindo Senegal com a influência
considerável das Irmandades Muçulmanas de Tuba na vida política, sócio cultural...
No entanto, a simbiose religiosa e
política em África subsaariana é uma realidade surpreendente da história,
ganhou proporções ao nível popular, através do défice educativo, de uma juventude
que na sua maioria, está dramaticamente empobrecida, sob qualificada,
analfabeta, contra o pensamento crítico, desprovido de liberdade intelectual e
facilmente manipulável por certos extremismos religiosos. Em África como em
outros lugares, a previsão de Andre Malraux provou certo: o século XXI será um
século hiper religiosa em todas as classes da sociedade.
A
DIVERSIDADE RELIGIOSA, UMA RIQUEZA PARA GUINÉ-BISSAU (PRIMEIRO NO RANKING EM
ÁFRICA E QUINTO NO RANKING MUNDIAL)
A diversidade religiosa se ilustra
estatisticamente pela heterogeneidade e um equilíbrio qualitativo e
quantitativo nas crenças.
Durante vários anos, o eminente e o
célebre Instituto de Pesquisa americano Pew Research realiza vários estudos
sobre as religiões, o seu impacto cultural, social e económica no mundo. Estes
estudos e pesquisas têm um papel de alerta, de prevenção dos conflitos provocados
pelas religiões. O instituto publicou no início de Abril de 2014, um documento
mundial sobre a diversidade religiosa, que inclui as principais religiões
(Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, Hinduísmo e Budismo), religiões
tradicionais (Animismo) e ao grupo de "não-filiados " (Ateus e Agnósticos).
Nesta
nova publicação inédita, o Índice da Diversidade Religiosa (IDR) por país foi
calculada baseando nas diferentes confeições dos habitantes. Quanto maior for o
número das diversas minorias religiosas mais espaço ocupam, mais o país é
considerado como tendo uma forte diversidade religiosa. O ranking foi
estabelecido em 232 países pesquisados, incluindo 51 Estados africanos.
Singapura, Taiwan, Vietnam, Coreia do Sul entre os quatro países do mundo com
melhor Índice de Diversidade Religiosa, o nosso querido país Guiné-Bissau é o
quinto no ranking mundial. Obviamente, podemos estar orgulhosos desta
classificação que faz do nosso país o primeiro em África entre 51 Estados em
termos da diversidade religiosa pelo influente Centro de Pesquisa Pew EUA.
Este
ranking mundial deve nos permitir, ter consciência de que a Diversidade Religiosa
no nosso país deve e pode ser uma Riqueza para o nosso país desde que as nossas
fronteiras sejam vigiadas com a maior vigilância e que os fluxos migratórios
sejam controlados e melhor enquadrado por nossos governantes. A Guiné-Bissau jamais
deve ser uma peneira onde se entra e sai como se quer. É uma ameaça à
integridade territorial da Nação.
Ao contrário, das regiões do Médio
Oriente, da África do Norte, da América Latina, das Caraíbas, do Senegal, da
Mauritânia,... se caracterizam pela mais Fraca Diversidade Religiosa do mundo,
devido à presença, ou seja, maioritária dos muçulmanos ou maioritária dos
cristãos.
O ESTADO LAICO DA GUINÉ-BISSAU: REGULADOR DA
DIVERSIDADE RELIGIOSA E DOS CONFLITOS DOS VALORES
A
independência do poder judicial e a força dos poderes executivos e legislativos
são uma garantia para a nossa soberania que deve se exercer, quando vemos as
massas da população de origem estrangeira se instalar no nosso país sem nenhum
enquadramento, de gestão dos fluxos migratórios. Não é preciso ser um vidente
ou um marabu para saber que dentro de 10 anos a nossa população actual será
multiplicada por 5, ou seja, 6 milhões de habitantes. Em conformidade com o
artigo 9 da nossa Constituição, a nossa Soberania Territorial e Nacional deve
ser exercida com maior vigilância para evitar futuras situações conflituais que
se desenrolam perto das nossas fronteiras. Para mim, "gerir é prevenir o
melhor e o pior!"
Perante os conflitos ligados a
diversidades de crenças, o Estado tem um papel preponderante na regulação de
conflitos. No entanto, o estado é o garante da integridade nacional e deve ser
um factor de unidade entre os cidadãos que vivem no seu território. Por isso,
ele deve promover os valores tais como; a Justiça Social, a Paz, a Liberdade, a
Tolerância e a Reconciliação entre os homens. Também deve implementar as leis
que promovem o respeito pela dignidade de todos os homens, sem qualquer
discriminação religiosa.
A DIVERSIDADE CULTURAL E ÉTNICA
A
diversidade étnica e cultural é caracterizada por cerca de 30 línguas com as suas
identidades culturais e étnicas. Uma identidade constitui um conjunto de
valores de um indivíduo. Mesmo se algumas identidades são dominantes, existe
uma heterogeneidade cultural e étnica real. Para preservar os equilíbrios
culturais e étnicos que conhecemos hoje, é importante que o Estado e os
políticos desempenham o seu papel de controlo, de reguladores das populações de
integração social e cultural das novas populações que entram para se instalar
no nosso país. Alguns deles fugiram dos seus países por razões que o Estado
desconhece devido à falta de capacidade de gestão de fluxos migratórios e,
outros reconstituem os seus bairros com suas línguas e práticas sociais no
nosso país.
Assim,
se constrói progressivamente zonas isoladas que se transformam em zonas onde
tudo é permitido. Onde está a Soberania do nosso Estado em tais condições, com
consequências imprevisíveis que podem ser dramáticas para a coesão nacional.
Devemo-nos inspirar nas dramas que ocorrem no mundo e a nossa volta para juntos
construirmos uma república laica aberta e justa.
As línguas da Guiné-Bissau mais importantes
são Balanta, Fula, Manjaca, Mandinga, e Papel... As restantes línguas são
faladas por menos de 50.000 falantes: Mancanha, Bijagós Mansonca, Biafada Banhunhe
Nalus, Felupe, Português, Francês, Cassanga, Árabe, Sírio, Libanes etc.
No
ponto de vista do espaço geográfico, certas línguas ocupam grandes espaços:
Balantas a volta e no Norte de Bissau, Oeste Manjacos, Fulas no Leste. Bijagós
ocupam um espaço significativo no Arquipélago dos Bijagós
CONCLUSÃO
Vários
acontecimentos trágicos ligados ao terrorismo internacional nos últimos dias
revelaram a que ponto a Diversidade Religiosa, a Diversidade Cultural e Étnica
continua frágil em todos os Continentes por causa do fanatismo e diferentes
tipos de radicalizações. Esta radicalização ideológica pode ser evitada pelas
questões de diversidade religiosa, cultural e étnica baseada no humanismo e o
pragmatismo institucional. Estes são os nossos pontos fortes e a nossa riqueza
comum que devemos preservar e transmitir às gerações futuras. Sim à Diversidade
Religiosa, sim ao Pragmatismo da Lei que coloca cada Guineense em mesmos
direitos e as mesmas obrigações. No seu papel de protector da integridade territorial,
o Estado deve controlar e limitar as construções de mesquitas que proliferam
excessivamente em cada canto da rua, sem que saibamos exactamente a origem dos
fundos nem a identidade dos responsáveis destas mesquitas.
O Estado deve redobrar a vigilância
na construção de locais de culto, sejam eles muçulmanos ou cristãos, a fim de
salvaguardar esta riqueza de todos nos que e a diversidade religiosa que nos
coloca em primeiro lugar no Continente Africano e quinto no ranking mundial.
Este equilíbrio religioso, cultural e étnico constitui a base da nossa
democracia, da nossa capacidade de viver juntos no diálogo, com sentido de
Estado, na justiça e na paz. Conforme a Constituição, o Estado deve desempenhar
o seu papel da supervisão dos espaços religiosos, de fronteiras para evitar fluxos
de imigração descontrolada. É Preciso um Estado forte capaz de informar,
comunicar e sancionar as infracções neste domínio, corajosamente o Presidente
do Senegal, um país com 95% de muçulmanos disse assim: "Para mim, o véu
integral não corresponde à nossa cultura nem às nossas tradições, ou mesmo a
nossa concepção do Islão. Devemos ter a coragem de lutar contra esta excessiva de
nos impor um modo de ser. Não podemos aceitar que nos imponham modelos de
vestuários vindos de outros lugares. "
Portanto, é necessário, o respeito
incondicional dos valores comuns definidos na nossa Constituição, uma
redistribuição equitativa da justiça social, preservação das culturas, bem como
a preservação da biodiversidade.
É precisamente, para concretizar
este papel da diversidade, que várias Organizações Internacionais, como a
Francofonia implementaram a Convenção sobre a Diversidade Cultural em 2005. Em
2010, a Unesco, sublinhou a importância da diversidade cultural e religiosa no
mundo contemporâneo, colocando-o em pé de igualdade com a necessidade de
preservação da biodiversidade no planeta. É o mesmo para a Convenção sobre o
ensino, educação, promoção e protecção da diversidade das expressões culturais.
Na verdade, qualquer cidadão em situação de exclusão social, nomeadamente o
analfabetismo, a pobreza e o desemprego continuam a ser um alvo privilegiado
para o crime organizado e dos extremismos religiosos.
Para
vencer estes desafios é preciso um Estado forte, soberano, justo, protector da
integridade territorial com meios de informações eficazes e capaz de sancionar
imediatamente quando necessário. Não pode existir no nosso país nenhuma zona
" Estado dentro do Estado" como existe no Vaticano (Itália). Mais
cedo ou mais tarde, estes agrupamentos comunitaristas transformarão em zonas de
isolacionismo identitária e sem Leis. A Nossa missão a cada guineense e de
continuarmos a lutar sem pensamentos que podem nos dividir para juntos
construirmos um mosaico étnico sociocultural que temos, valoriza-lo e torná-lo
cada vez mais visível perante o mundo.
Caetano Ferreira para mim, "gerir
a Nação é prevenir o melhor e o pior no longo e médio prazo para a justiça e a
coesão social! "
Novembro, 2015
Caetano José Baticã Ferreira (Flávio) - Um dos membros activos da Diáspora Guineense em França
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