Ordem de detenção para Manecas dos Santos após entrevista ao DN
Polícias foram a casa do comandante do PAIGC para o deter. Ao DN, dissera que o país pode estar na iminência de golpe e criticara o atual presidente
Manuel (conhecido como Manecas) dos Santos, comandante histórico do PAIGC, está sob pressão do Ministério Público da Guiné-Bissau desde que deu uma entrevista crítica ao DN, alertando para a possibilidade de o país estar na iminência de um golpe de Estado.
"Na sexta-feira, dois agentes da Judiciária foram a casa dele para cumprir um mandado de detenção", disse ontem à noite ao DN Carlos Pinto Pereira, advogado de Manecas dos Santos. Mas o comandante, de 74 anos, tem estado com problemas de saúde e fora internado na véspera: "A esposa informou os agentes que ele estava hospitalizado e disse-lhe para contactarem comigo."
Na entrevista, Manecas dos Santos dava a sua opinião sobre o atual impasse político no país, com críticas ao presidente e um alerta de mal-estar nas Forças Armadas. "A Guiné-Bissau pode estar na iminência de um golpe", disse. Mal a entrevista foi publicada, o Ministério Público convocou-o "como denunciante" para o interrogar.
Questionado por horas, ele reiterou que apenas emitira a sua opinião. O processo foi arquivado. Mas dias depois outro foi aberto, reconvocando-o para novo interrogatório, a 2 de Junho. Manecas apresentou atestado médico, explicando que não podia comparecer por motivos de saúde. Ainda assim, a 5 de Junho, o delegado do procurador emitiu o mandado de detenção, e a 9 apareceram em casa dele.
Carlos Pinto foi ao Ministério Público nessa própria sexta. "Li o mandado. Não especifica o propósito da detenção, quando devia dizer que o motivo era não ter comparecido a uma audiência judicial. A falta sem justificação pode ser motivo para mandado, mas não foi o caso. Ele não pôde ir por motivos de saúde e justificou. Essa justificação foi entregue por mim, mas fizeram tábua rasa dela. Não estavam interessados nisso, estavam interessados em vexar o comandante. Não lembra ao diabo prender uma pessoa para a ouvir quando ela está 100% disponível para ser ouvida. Ele foi internado na quinta-feira, antes de sabermos que havia o mandado. Sentiu-se mal, está a ser acompanhado por um médico há bastante tempo. O atestado médico é de 22 de maio e prova que não havia intenção de enganar ninguém." Mas o Ministério Público duvidou. Ainda na sexta, chamou o médico a depor. "Quando eu estava a sair de lá, cruzei-me com ele", conta o advogado. "Ele esclareceu o que havia a esclarecer."
No caso do primeiro interrogatório, explica Carlos Pinto, o que estava em causa era o risco de acusação "de incitamento ao golpe, crime que pode ir até dez anos de cadeia. "Como tiveram de arquivar o processo porque já não podiam fazer mais nada, abriram um outro em que a acusação é de simulação de crime: que ele teria falado da preparação de um crime e não a provou. Para esse crime, menos gravoso, a pena é de dois anos."
O advogado assegura que "o comandante está perfeitamente tranquilo e disponível para todos os esclarecimentos". "Não é golpista nem nunca foi, está afastado das Forças Armadas desde 1977, é um puro civilista. O que ele afirmou na entrevista foi uma opinião. Como militante da luta entendeu que as coisas na Guiné-Bissau não estão bem e desabafou. Levar isso para uma tentativa de incitamento é abusar."
O DN tentou contactar sem sucesso, a Procuradoria-Geral da República da Guiné-Bissau.
Questionado, através de um amigo que o visitou na clínica sobre se queria fazer alguma declaração para este texto, Manecas dos Santos resumiu: "Sou um resistente." Quem o viu diz que está de bom ânimo.
A entrevista publicada por este jornal foi feita a 27 de Abril, na casa do comandante em Bissau, a propósito do 25 de Abril. Em 1973, Manecas dos Santos teve a cargo o cerco de Guidage, batalha dramática da Guerra Colonial que contribuiu para o movimento dos capitães que fizeram a revolução. Salgueiro Maia, um dos que estiveram sob cerco, juntou-se com os seus homens aos que já lá estavam.
Alguns observadores no terreno apontam que Manecas dos Santos está a coordenar a convenção do PAIGC que vai estruturar a orientação do partido para futuras eleições, aguardadas com expectativa. A sua detenção visaria travar esse processo, considerado decisivo.
Rispito.com/DN, 11-06-2017
O que disse camarada Comandante Manecas, corajosamente em voz alta, alertando mais uma vez, nesta forma, nós todos, só quem tem a pedra na totona não reconheça neste momento, de que o nosso país vive na veracidade disto. A grande probabilidade da eminencia do cenário de um Golpe de Estado Militar poder tornar-se, infelizmente e ai, uma realidade pura e dura nesses tempos neste país e a qualquer momento.
ResponderEliminarE isso não estranharia a ninguém, tendo em conta a situação aqui vigente, já há 21 meses e pico. Desnecessariamente, apenas pela teimosia do nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV. Ele, à frente de tudo com os apoiantes de todos os bordos da sua posição totalmente errada e equivocada.
Tudo. Errada e equivocada em relação aquilo que devia e deve ser constitucionalmente, atualmente e hoje mesmo nestes segundos, o papel de um Presidente da República da Guiné-Bissau na governação deste país.
Existe sim senhor!, a grande, grande probabilidade da ocorrência do cenário de um Golpe de Estado Militar neste momento na Guiné-Bissau. Muito certo, analiticamente falando e tendo em conta os dados do memento e da nossa história bem recente. Só quem tem a pedra na totona não esteja em condições de constatar e reconhecer isto.
Ora, tentar deter ou deter alguém, um cidadão nacional, do gabarito de camarada Comandante Manecas por ter opinado livre e corajosamente sobre esta verdade, comunicando a todos, não passa de mais uma das maiores asneiras. Mais uma grande asneira tanto como já muitas outras a figurar no catálogo já muito repleto dos atos do género, já perpetrados neste fanfarrão do Regime de não-sei-quê que o nosso atual S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV quer instalar no nosso país.
Tentar deter o camarada Comandante Manecas, por causa de uma tal opinião livremente exprimida e num momento bem certo; deter?, será ou é ato a ser pensado, ordenado e perpetrado apenas por quem não tenha nada! De uma mínima da noção do Estado.
Mas que todos e todas daquele bordo que assim estão agir nestes minutos leiam bem os dados da República da Guiné-Bissau neste capítulo da perpetração das asneiras do género; dados da nossa história bem muito, muito recente; para que saibam que, com este tipo de asneiras, cá, aí, ninguém vai longe. A ver vamos.
Ao camarada Comandante Manecas, grande filho do nosso povo bissau-guineense e de África inteira, coragem! Minha total indignação e condenação forte deste mais um ato de asneira grande dessa atual gente governante do nosso país. Asneira, só asneira.
Obrigado.
Que reine o bom senso.
Amizade.
A. Keita