Analista diz que Guiné-Bissau não tem condições para legislativas a 18 de novembro
O analista político guineense Rui Jorge Semedo disse que não há ninguém que possa afirmar que existem condições para fazer legislativas a 18 de novembro e, a insistir-se, criam-se “condições para a negação dos resultados eleitorais”.
“Não há ninguém que possa neste momento afirmar que existem condições técnicas e administrativas para poder fazer eleições na data prevista, que é 18 de novembro”, afirmou em entrevista à agência Lusa o politólogo guineense.
Segundo Rui Jorge Semedo, as previsões apontam para o recenseamento de 300.000 pessoas num espaço de um mês e isso “cria uma condição favorável para a reabertura de conflito e crise na Guiné-Bissau”.
“Há que existir uma certa racionalidade, porque o Governo não deve ser levado pelo coração, o Governo tem de ser levado pela razão, usar a cabeça. O Governo tem todos os instrumentos, tem uma equipa técnica, tem ao seu dispor pessoas com competência para poder avaliar se realmente existem ou não existem condições”, afirmou.
Para o analista, o Governo tem de “ter coragem” para dizer que não conseguiu, porque é essa a sua responsabilidade.
Rui Jorge Semedo salientou também que esta é a primeira vez que a Guiné-Bissau está a realizar uma eleição “totalmente diferente daquilo que tem sido habitual no processo eleitoral” do país.
“Primeiro foi marcada uma data sem, no entanto, serem observadas as condições reais, técnicas e financeiras do país para fazer as eleições na data indicada, ou seja, 18 de novembro”, afirmou.
Segundo o analista, o Governo tomou posse em abril “perante uma situação de dificuldade, porque dependia de recursos externos para efetivar o processo eleitoral”.
“Essa demora foi colmatada em setembro passado, momento em que o país começou a captar alguns recursos financeiros e também com o apoio que a Nigéria concedeu ao país com 150 ‘kits’, que não conseguem fazer a cobertura total dos 1.022 distritos apresentados para o processo”, explicou.
Para o analista, o terceiro ponto está relacionado com a falta de consenso entre os órgãos gestores do processo e com a própria Comissão Nacional de Eleições, que “não trabalha com autonomia suficiente”.
“Esta situação criou desconfiança, não só a nível dos partidos, mas preocupa também a própria sociedade civil. Todos sabemos que as eleições são um conjunto de processos técnico-administrativos, jurídicos, mas também políticos e portanto quando não se consegue conduzir o processo de uma forma mais transparente, mais profissional, cria-se num país instável, como a Guiné-Bissau, com as suas deficiências, condições propícias para a negação dos resultados eleitorais”, afirmou.
Para Rui Jorge Semedo, é “isso que as pessoas temem, sobretudo a sociedade civil, que tem pressionado através da sua estrutura, chamando a atenção para se fazerem correções, mas também um novo cronograma eleitoral que se adeque à própria exigência do processo”.
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, marcou as eleições legislativas para 18 de novembro em abril, na sequência de uma cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para ultrapassar o impasse político que se vivia no país desde 2015 e que incluiu também a nomeação de Aristides Gomes primeiro-ministro, bem como a reabertura do parlamento.
O processo eleitoral em curso na Guiné-Bissau tem provocado fortes críticas dos partidos sem assento parlamentar e da sociedade civil, nomeadamente devido ao recenseamento, e que têm pedido que as legislativas sejam adiadas.
Rispito.com/África, 09-10-2018
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