segunda-feira, 12 de julho de 2021

DA TOLERÂNCIA EM DEMOCRACIA

 Há alguns meses, por ter aceite o convite do Presidente da República para a cerimónia de ruptura do jejum, durante o mês sagrado do Ramadã, fui violentamente atacado nas redes sociais, pelos procuradores do tribunal autoproclamado da santa inquisição política pós- eleições presidenciais de dezembro de 2019.

Na verdade, esses ataques não podiam em caso nenhum atingir-me pessoalmente.

A minha serenidade provém do compromisso político e moral que tem caracterizado a minha vida pública, ao serviço exclusivamente do meu País e dos ideais que defendo, com os meus companheiros do Partido da Unidade Nacional- PUN, a quem devo a minha lealdade política.

O que entendo ser preocupante, é a deriva totalitária que o debate político-partidário assumiu no nosso País.

Na altura, chamei a atenção para o facto de que devíamos evitar que a política ocupe todo o espaco público na nossa terra.

Ontem, no estádio 24 de setembro, líderes políticos rivais encontraram-se durante um jogo de futebol.

O acontecido convida todos os nossos compatriotas á reflexão.

As nossas rivalidades políticas por mais importantes que sejam não devem fazer-nos esquecer que temos outros pólos de interesse comuns que não se limitam à política partidária.

Partilhamos e partilharemos sempre o mesmo espaço geográfico.

As disputas político- partidárias não devem ser um motivo para fracturas da nossa sociedade, ou pior ainda, das nossas famílias.

Em democracia viveremos forçosamente com opiniões políticas divergentes; senão onde reside o interesse da sociedade aberta que ambicionamos construir?

Com um pouco de esforço encontraremos na história recente do nosso País, matéria para reflexão sobre a tolerância.

Os que hoje constituem o Madem G15 eram ainda ontem militantes e dirigentes do PAIGC.

Fizeram nesse partido toda a sua carreira política e nessa qualidade, são sem dúvida nenhuma, responsáveis por todos os actos realizados pelo PAIGC.

Nada indica que esses partidos não voltem a juntar-se novamente um dia.

A história do PRID e do seu presidente, Dr Aristides Gomes, está aí para recordar-nos.

Alguns militantes e dirigentes do PAIGC incompatibilizaram-se na altura com o seu partido, tendo apoiado o candidato independente João Bernardo Viera- Nino nas eleições presidenciais de 2005. Fizeram então aliança com o PRS e demitiram ilegalmente o governo legítimo de Carlos Gomes. Posterioremente criaram o PRID.

Hoje, Aristides Gomes e uma parte do PRID regressaram ao PAIGC.

Imagino que os líderes que se encontraram e abraçaram ontem no estádio, num acto civilizado entre compatriotas e adversários políticos, não irão virar as costas aos respectivos projectos políticos pelo facto de se terem cumprimentado.

Em nenhuma circunstância, esses acontecimentos devem ser entendidos como crimes de lesa-majestade.

A lição que retenho do acontecido no estádio é um apelo á Tolerância, celebrada na obra de Voltaire na Europa.

A construção da democracia sem a tolerância é uma porta aberta para o caos.

Concluirei com esta máxima da Bíblia: " A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. "

Devolvamos a política ao seu lugar. Evitemos para sempre que ela ocupe todo o espaço público no nosso Pais.

Idriça Djalo, líder do PUN

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