quinta-feira, 16 de março de 2023

Guiné-Bissau com “potencial contínuo” de ser usado para tráfico de cocaína - ONU

A Guiné-Bissau continua com “potencial contínuo” para ser usado para o tráfico de cocaína por vários atores, refere o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC), num relatório hoje divulgado.

“Desenvolvimento recentes, em particular alguns grandes carregamentos apreendidos em 2019, apontam para o potencial contínuo de aquele país ser usado para o tráfico de cocaína por vários atores”, pode ler-se no “Relatório Global sobre Cocaína 2023”.

A Polícia Judiciária da Guiné-Bissau apreendeu em setembro de 2019 1.869 quilogramas de cocaína, a maior apreensão feita no país, e deteve 12 pessoas, entre nacionais e estrangeiros, que foram condenadas pelo Tribunal Regional de Bissau em 2020, incluindo Braima Seidi Bá e Ricardo Ariza Monges, alegados cabecilhas, que acabaram mais tarde absolvidos pela Câmara Criminal do Supremo Tribunal de Justiça.

Uma outra operação, realizada em março de 2019, levou à apreensão de 800 quilogramas de cocaína e à detenção de vários homens e um painel de peritos do Conselho de Segurança da ONU ligou aquela droga a um cidadão maliano sancionado por utilizar o tráfico de droga para financiar o terrorismo, nomeadamente a Al-Mourabitoun, filiada da Al-Qaida.

Uma terceira apreensão, de duas toneladas, foi feita no Senegal, em outubro de 2021, que as autoridades senegalesas acreditam que teria como destino a Guiné-Bissau.

O UNODC cita igualmente relatórios que indicam que as duas apreensões feitas em Bissau envolvem redes às quais pertencem cidadãos da Guiné-Bissau, Senegal, Mali e Guiné-Conacri e sugere que os traficantes colombianos circulam frequentemente entre a Guiné-Bissau e o Senegal e a Guiné-Conacri.

“Um relatório de acompanhamento sugere que a Polícia Judiciária da Guiné-Bissau reuniu provas que apontam para o surgimento de uma nova rede de atores locais que têm viajado para a América Latina e estão em negociações diretas com congéneres daquela região”, refere a agência das Nações Unidas.

No documento refere-se também que o arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, parece ter um papel determinante como “ponto de entrada da cocaína”.

“Por exemplo, segundo fontes da imprensa, a ilha de Caravela foi usada como ponto de paragem para 1,9 toneladas de cocaína em setembro de 2021”, salienta-se no documento, acrescentando que daquele local a cocaína terá saído por terra para o Mali, via Senegal e Guiné-Conacri.

“Nós últimos anos, a Gâmbia, o Senegal e Portugal classificaram a Guiné-Bissau entre os principais países de proveniência de carregamentos de cocaína apreendidos”, refere o UNODC, acrescentando que a cocaína da Guiné-Bissau chega ao Mali via Senegal ou Guiné-Conacri, utilizando a cidade senegalesa de Tambacounda.

No documento refere-se também que os dados apontam que o papel do continente africano, principalmente da África Ocidental e Central, como uma zona de trânsito da cocaína para o mercado europeu aumentou substancialmente em 2019.

“A localização geográfica da África Ocidental e Central é uma paragem natural para a cocaína proveniente da América do Sul em trânsito para Europa, especialmente para embarcações que saem do Brasil”, explica-se no relatório.

Segundo o UNODC, a curta distância entre a América do Sul e a costa africana é feita entre o estado brasileiro de Rio Grande do Norte e o rio de Casamansa, na fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau.

A agência da ONU salienta que aquela rota, que inclui Cabo Verde, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal, é uma das mais utilizadas, tendo em conta as apreensões registadas.

No relatório refere-se igualmente que os grupos criminosos brasileiros parecem estar cada vez mais a virar-se para países de língua portuguesa, como Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Lusa

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