terça-feira, 6 de novembro de 2012


Apontamentos do facto 21

Ernesto Dabo
É básico saber que sem a colaboração de agentes internos, nenhuma força externa consegue os seus intentos. Entenda-se externa aqui, não apenas no sentido do estrangeiro. Ela também é relativa a grupos de interesses internos, ou seja, em cujas relações, um pode manipular gente do outro para atingir os seus objetivos.
Como se de uma disposição convencional se tratasse, mais um fim-de-semana foi perturbado no país, pela sobreposição de sons de disparos de armas de fogo, a sons das discotecas cheias de nossos filhos a tentarem divertir-se sem se darem conta que gente que se julga adulta e responsável, estava a cometer mais um atentado ao seu futuro.
Enquanto não se faz a devida luz sobre o que se passou na noite de 21 de Outubro, proponho-me apontar e ponderar alguns factos disso decorrentes:
- O quartel dos Pára-comandos, é nosso, do Estado da Guiné-Bissau ; 
- Os Pára-comandos, são filhos da Guiné-Bissau;
- Os mercenários que tentaram o assalto, são filhos da Guiné-Bissau; 
- Os seis jovens que perderam as suas vidas ingloriamente nessa loucura, são filhos da Guiné-Bissau;
- Os dirigentes políticos que foram espancados e atirados ao mato como se de sub-humanos se tratasse, são filhos da Guiné-Bissau;
- Os que os espancaram, são filhos da Guiné-Bissau;
-Os que foram vítimas de incómodos e, alegadamente, de atrocidades, nomeadamente em Bolama, consequentes da operação que levou à captura do alegado chefe dos assaltantes, são filhos da Guiné-Bissau;
- Os que realizaram a operação, são filhos da Guiné-Bissau;
- A indignação e condenação do criminoso atentado ao processo de estabilização, pretendida com a tentativa mercenária de 21 de Outubro, são maiores e definitivas em toda a Guiné-Bissau;
- O irresponsável aproveitamento desse vil ato para motivar o crime maior e potencialmente mais sanguinário, de instigar ódios e conflitos entre guineenses, pretensamente por razões tribalistas, também foi feito por filhos da Guiné-Bissau;
- Que disso tenhamos consciência ou não, todos os filhos da Guiné-Bissau foram responsáveis e vítimas da traição cometida nessa ininteligente e fatídica ação terrorista, contra o interesse comum e vital para todos e toda a Guiné-Bissau, de nos colocarmos definitivamente na via da construção da paz e desenvolvimento.
- Todos nós temos como lugar de nascença e Pátria, esta Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não amada como merece, por todos os seus filhos e “enteados”, alguns dos quais, até se negam a nobreza de dizer poesia de boca fechada, conspurcando os ares com o atrevido ar de ingratos, considerando o seu Estado um “narco-Estado”. 
Cada facto que apontei, tomado por si ou conjugado com os restantes, prova que a nossa crise é cultural antes de ser de outra natureza. 
Manipular ou deixar-se manipular para fins ignóbeis como os de destruir vidas humanas e bens públicos ou particulares, visando uma suposta defesa de interesses desta terra que nos viu nascer, é gritante demonstração de falta de cultura;
Ignorar ou desconhecer que a Guiné-Bissau, por tudo o que nos dá, apenas nos pede em troca que nas nossas relações nunca nos esqueçamos que dela temos o apelido comum de GUINEENSES, que devemos sempre dignificar, é gritante falta de cultura patriótica.
Confesso a minha vergonha pela parte da responsabilidade que me cabe das nossas derrotas. 
Reitero solenemente seguir combatendo as minhas fraquezas, de forma a melhor contribuir para as nossas vitórias.
Paz às almas das vítimas mortais, justiça aos ofendidos e, compreender e educar os que não compreendem a infinita pobreza do crime e da guerra.
Ernesto Dabo

1 comentário:

  1. ais uma vez, não sou GUINIENSE, mas concordo "ipsis verbis" com tudo o que Ernesto Dabo escreve nesta cronica...
    Emanuel D'Alva

    ResponderEliminar

ATENÇÃO!
Considerando o respeito pala diversidade, e a liberdade individual de opinião, agradeço que os comentários sejam seguidores da ética deontológica de respeito. Em que todas as pronuncias expressas por escrita não sejam viciadas de insultos, de difamações,de injúrias ou de calunias.
Paute num comentário moderado e educado, sob pena de nao sair em público