domingo, 21 de julho de 2013

ENTREVISTA COM O 1º MINISTRO DO GOVERNO DE TRANSIÇÃO DA GUINÉ-BISSAU



O seu espaço de informação, de notícias, de opiniões e de analises escritas, sempre preocupado com a situação da Guiné-Bissau. Apoiado no respeito como a arma de luta contra o desentendimento, um factor estrangulante de qualquer sociedade, mas na base de mobilização de consenso entre todos os actores da vida política, classe militar, sociedade civil e todos os que de forma directa ou indirectamente fazem parte na condução dos destinos da Guiné-Bissau.



No dia 16 de Julho, o editor do “Rispito.com” Samba Bari, esteve junto da sua Excelência senhor Primeiro-ministro do governo de transição Eng.º Rui Duarte Barros, para uma pequena conversa que gostava de partilhar com todos nesse “Ponto di Mira” da semana. Clica aqui para ouvir a entrevista na integra



Eis a conversa (entrevista):
Rispito (R)- Um país sempre enfrentou dificuldades, mas com 12 de Abril conheceu a sua pior fase com isolamento internacional e a mais terrível divisão das ideias entre guineenses… Seja como for, de uma forma ou outra alguém tinha que assumir a gerência do país mesmo que em detrimento do poder não cair na rua ou do povo viver na anarquia… O Sr. assumiu essa luta com que propósito?



Rui Duarte Barros (RDB)- Agradeço o empenho do Blog Rispito.com que é um espaço da minha visita habitual e elogiar o seu incansável esforço na busca de entendimento, de
dissipar muitas duvidas e controvérsias de compreensão sobre a Guiné-Bissau e as autoridades da transição. Como bem disseste que o poder não devia cair na rua nem deixar o povo na anarquia, razões pela qual assumi essa responsabilidade com todo o risco para garantir a segurança, a estabilidade e conduzir esse momento difícil numa clara intenção de fazer algo de bom para esse povo… O que já agora gostava de pedir que cada um de nós contribua do seu jeito e da sua maneira em prol do bem-estar para a nossa Guiné-Bissau. Todos sabemos que foi dado o golpe e muita coisa aconteceu, mas como não cá estamos para justificar o golpe, o mais importante é que cada um tenha consciência de que só cabe a nós encontrar soluções para o nosso bem-estar social. Não digo que o empenho do governo que estou a chefiar está a atingir o 100% dos seus objectivos, mas está em esforço continuo.

- Quais foram as maiores dificuldades do seu governo na primeira fase e quais foram os falhanços que impediram o incumprimento do primeiro acordado (dos 12 meses)?

RDB - Sim, na 1ª fase tínhamos como objectivos de lutar contra narcotráfico, preparar eleições, reforma de sector de defesa e segurança e de luta contra corrupção. Portanto temos consciência de que não conseguimos atingir esses objectivos a 100%, mas já
iniciamos e já fizemos muita coisa… Relativamente ao ponto que se fala das eleições, é verdade que a Guiné-Bissau desde abertura democrática a data nunca conseguiu realizar eleições com meios próprios, ou seja sempre dependemos da Comunidade Internacional e mais ainda neste momento onde se trata de eleições gerais (legislativas e presidenciais). Da nossa parte, fizemos tudo o que é da nossa possibilidade e alcance. Por exemplo, já fizemos a cartografia o importante para eleições, multiplicamos centros biométricos de Bilhetes de Identidade com supressão do método arcaica de testemunha devido a porosidade das nossas fronteiras. Abrimos centros biométricos em Bubaque, na Mansoa em Qunhamel, na Ingoré, além da constante multiplicação em Bissau… Respondemos ainda a exigências da comunidade internacional de inclusão, nomear novo presidente de CNE que deve ser um magistrado, fixar data das eleições, iniciar a reforma de sector da defesa e segurança, do qual tudo fizemos até já aprovamos no passado dia 15/07/13 OGE rectificativo… Portanto toda a exigência em termos políticos da nossa parte já está feita o que demostra o nosso esforço e vontade faltando-nos só parte financeira que cabe a comunidade internacional. Pelo que renovamos o nosso pedido a Comunidade internacional para que a eleição seja feita na data marcada.

R – Após falhanço da primeira fase de transição surge necessidade de 2ª fase que dita um governo inclusivo desde que a V.Exª seja intocável, isso demonstra confiança da sua chefia?

RDB - Nisso eu penso que não me posso vangloriar em capacidade e poder de ter feito tudo, mas acho ter feito algo na medida do possível, antencioso de que é importante ter a
capacidade e vontade de dialogar com todos, porque aí a força não pode prevalecer na busca do consenso, isso fez com que o bom relacionamento conseguiu prevalecer com o parlamento, partidos politicas e a sociedade civil… Mas o fórum dos partidos políticos também jogou um papel importante ao demostrar de que neste país ninguém pode governar sozinho. Para mim é a conclusão que eu tiro dessa realidade. Esta confiança foi demostrada também no momento da formação do governo inclusivo numa altura de divergência (num bom sentido), que apesar de tudo se conseguiu formar um governo capaz de nos conduzir as eleições no dia 24 de Novembro.

R - O Sr. Está chefiando um governo balizado entre a carta de transição, acordo de transição, parlamento e o PR. Com o maior propósito de realizar as eleições gerais, mas… confrontado com pesados problemas especialmente da má campanha de caju e a ameaça de fome aos guineenses… Como pensa administrar tudo isso e conseguir realizar eleições na data prevista?

RDB - Muito obrigado, essa questão de campanha de caju é muito importante, há 36 anos que a Guiné-Bissau produz castanha de caju até hoje o país não conseguiu criar a mais pequena indústria de transformação, mecanismos adequado de exportação e produzir valor acrescentado ao nosso produto etc… De maneiras que todos os anos o país depara com mesmas dificuldades e ao mesmo tempo todos os anos há quem ganha com isso. E é nos ganhos que se deve poupar para preparar próxima campanha, mas ninguém não pensa nisso, infelizmente estamos confrontados com a realidade… FUMPI criado pelo governo anterior que embora feita de forma errada mas é uma boa iniciativa que podia ser aproveitada pelos operadores, pequenos comerciantes e agricultores organizarem de formas a poderem adquirir directamente os créditos mas que não estão a fazer. As pessoas só querem pelas facilidades o que nunca deve ser. Os grandes operadores todos estão individados e que já não tem moral de voltarem aos bancos para pedir novos empréstimos. kadafi criou três fabricas que não estão a funcionar, mas com a nossa ameaça de confiscarmo-las em caso de continuarem paradas por o estado também la faz parte mediante insenção, então puseram uma a funcionar onde está empregado 400 jovens a trabalhar. Está em curso a abertura das outras também, em Quinhamel e na Nhacra etc… Outra grande questão é de esse assunto ter muitos intervenientes sem deixarem o governo livre para orientar essa matéria de sua competência… Num encontro com o PM de Costa de Marfim na Índia, esse confessou-me a grande qualidade da nossa castanha e pediu apoio. De maneiras que temos que ir para industrialização de castanha e outros produtos, para não se depender só de compra dos Indianos que muitos protestam, mas que se eles não comprarem como fazer com os produtos na mão sem comprados. Todo o mundo quer fazer campanha e sempre que correr bem a preocupação é vaidosia com granes carros e de construir no estrangeiro. Mas porque não construir aqui na Guiné? As pessoas só querem facilidades mas o país tem que ganhar… A situação é essa e estamos a procura de solução. Os Ministros do comércio, da economia e das finanças já criaram todo o mecanismo de escoar as castanhas na posse dos populares mediante empréstimos, mas com certeza de pagamento das dívidas e pagamento dos impostos que na Guine ninguém quer, o que todos conhecem é as palavras estado, governo e isenção.

R - Perante uma aprovação parlamentar que o ressentimento podia ser tanto biométrico como manual, porque é que se adoptou a escolha do mais complicado ressentimento biométrico num espaço de execução muito curto em frente?

RDB - Sim, essa é uma boa questão, Assembleia aprova que pode ser manual ou biométrico, certo é que própria Assembleia no dia 5 de Maio no pacto revista e acordo político revisto assinado por todos os partidos na página 11 ponto 3 desse documento vem
muito bem explícito de que o recenseamento deve ser biométrico, o que somos obrigados a acatar já que a nossa função é só executar onde de seguida tanto eu como o presidente da república não podemos candidatar. Em caso de dificuldades são os mesmo partidos e o parlamento que voltaram a novo acordo e dizer ao governo o que querem. Sabemos que o biométrico é importante e tem a suas vantagens mas nunca podemos intervir sem a decisão dos partidos. Mas é bom que chega uma altura em que devemos parar de estender as mãos a pedir para realizar as nossas eleições, pelo que biométrico podia ajudar muito nesse processo. Razão pelo qual neste momento o registo é grátis para poder apressar as facilidades de cada um ter o seu BI biométrico, onde o banco de dados é fiável e a actualização tão simples… Só que não gostava de tanto falar nisso já que toda a decisão de manter ou alterar cabe aos partidos assinantes.

R - Num preparativo que se pode considerar em cima de joelho, o Sr garante aos guineenses uma eleição credível?

Olha, eu penso que isso é desejo de toda a gente mas para mim em particular, porque por tudo o que fiz até ai, torna-se decepcionante algum falhanço para a minha reputação, credibilidade e uma vergonha da minha prestação… Por isso é que estou a trabalhar e a fazer de tudo para atacar esse rumo com menos contestação possível. Não é fácil porque se dantes o problema da Guiné não das eleições, agora não porque os cenários inverteram-se nessas ultimas eleições onde os problemas nascem das próprias contestações dos resultados. Nisso é que temos de trabalhar todos em formas de evitar situações semelhantes.

R - Qual é a palavra de confiança que o Sr. PM pode garantir a todos os guineenses e um futuro de esperança para a comunidade na Diáspora?

RDB - O que peço é a vinda das pessoas para constatarem in-loco a realidade do país, deixando de acreditar só nas informações ouvidas ou lidas na Internet que fala de prisão e tortura das pessoas nas ruas. Eu posso garantir de que não existe país tão seguro como a Guiné-Bissau, onde há liberdade de imprensa… E mais depois de golpe estive a fazer balanço o numero de impressas estrangeiras criadas e investidores privados europeus, americanos etc., que vieram ao país está acima de 20% do período homologo anterior. Isso demonstra a clareza das regaras, ou seja de saber separar as duas coisas, ao ser governante é preciso saber se ca estou para servir a população ou cá estou a servir o estado… ser governante ou ser negociante, não duas coisas ao mesmo tempo. Portanto é a coisa que nós conseguimos separar, fizemos declaração de bens e saldo da conta bancaria de cada um dos membros do governo entregue no tribunal para um futuro balanço no dia que deixar o governo. Porque temos que acabar com pedir percentagens as empresa como a condição de operar no país. E todos que vieram constataram realidade contrária ao que se fala do país, pelo que peço aos meus irmãos na Diáspora que venham e tragam investidores para o país que agora tem segurança e o nosso desejo é que todos possam participar nesse processo. Garanto que a questão de justiça tem de ser resolvido, onde as pessoas com violências e crimes de sangue têm de responder. Porque é incrível matar em plena função um deputado, um Ministro e um chefe de estado em banho-Maria, sem resolução interna nem reacção forte da comunidade internacional, enquanto no Líbano um ex-Primeiro-ministro é morto a reacção da comunidade internacional foi imediato em criar um tribunal internacional para investigar e julgar o caso. Peço a todos que passem boas mensagens para o país porque cada mensagem positiva significa acreditar mais em Guiné-Bissau.

R – Ciente de que o Sr. PM não faz política de vida ativa, embora já com grande experiência política, depois da transição o que será do Sr. Num curto, médio e longo prazo?

RDB - Eu sempre beneficiei desse país desde na luta de libertação até nos meus estudos, isso faz com que o meu espírito é servir também sempre o país, seja cá dentro ou lá fora, o que importante para mim é dar uma boa contribuição para o país.

R - Sr. PM tem o microfone em disposição para falar de eventuais questões que não perguntei mas que são pertinentes

RDB - Renovo o meu pedido a contribuição da comunidade internacional, elogio o papel de CEDEAO, papel de UEMOA… E peço aos nossos camaradas de CPLP embora consciente de que é uma comunidade linguística e cultural, não de política, mas mesmo assim em
termos linguísticos nada têm feito. Porque se comparar centro cultura Francês e centro cultural Português tiras a conclusão de que este país está na eminência de ser mais francófono do que português, provas de que lusofonia não está em nada para progredir a língua neste país. E se esta organização quer contribuir em defesa da língua tem que vir para aqui porque se não, daqui a uns anos Guiné-Bissau deixara de falar Português em detrimento do francês. E por fim gostava de reafirmar que este país é uma oportunidade de investimento porque temos muitos recursos… Tantos acordos de pesca que nunca chegaram de pensar na industria para o país já que estão a defender os interesses deles, nós também temos que defender os nossos interesses para deixarmos de só vender e vender. Peço mais uma vez aos nossos compatriotas em mobilização dos investidores para a nossa economia porque não temos. E… precisamos de suprimir os “petit Manadu” e a dependência nas feiras de “Sandagá”. 
Muito obrigado.
Samba Bari - Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa
Nota: Leia mais analises do PONTO DI MIRA, a partir do domingo de manhã da próxima semana. Até lá


2 comentários:

  1. Parabéns Rispito pelo trabalho. Eu em particular como filho de camponês já me questionava o que fazer quando a Índia deixar de comprar a nossa castanha? Porque ficaram parado já muitos anos da sua construção as fabricas de descasque de castanha de caju? E porque nós não podemos pescar e vender peixe para quem nos paga melhor preço?
    Estas questões devem ser respondidas para todos nós e fazermos um analise crítica a tantos governos que dirigiram este país.
    Mas uma vez parabéns e muita força no seu trabalho.

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  2. Uma boa entrevista, um Primeiro Ministro muito lucido e com argumento e critério. Temos que abrir bem os olhos e por a funcionar a nossa mente e capacidade, e sobre tudo ter espírito nacionalista e de colectivismo, para entre todos poder levar de novo o nosso nome e boa imagem a percorrer o mundo.

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