quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A EDUCAÇÃO, O CONHECIMENTO E A CULTURA NA PRÁXIS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL DE AMÍLCAR A CABRAL

A concepção de libertação nacional de Amílcar Cabral, que ultrapassa os marcos da conquista formal da Independência e implica a remoção de todos os obstáculos ao livre desenvolvimento das forças produtivas e de todas as formas de subjugação da pessoa humana, é indissociável da luta contra a ignorância e pela promoção do conhecimento e da cultura, encarada, de resto, como manifestação genuína da cultura e como ato de cultura, a luta de libertação nacional não só se fundamenta e se inspira na cultura como influência esta ultima (Cabral, 1972), orientando-se para a construção de uma sociedade nova, livre e de progresso, em que o poder esteja nas mãos e ao serviço do povo.
Para ser vitoriosa , a gesta libertadora exige, pois, a par do recurso ao “poder das armas”, que se mostrou evitável para fazer face à repressão colonial, a utilização da “arma da teoria” ou do conhecimento, No contexto da libertação nacional, Cabral não só delineia como enceta a implementação das bases de um novo paradigma educacional que, pelo seu carácter emancipatório, humanista e progressista, contraria os pressupostos do ensino colonial e, no essencial, mantém toda a sua atualidade. Palavras-chave: libertação nacional, educação, conhecimento, cultura.

Amílcar Cabral, lutou em prol de uma sociedade assente no ideário da liberdade e da dignidade da pessoa humana, do progresso solidário e da justiça social, para cuja construção concorrem, de forma decisiva, a educação e a formação. Um agrónomo de formação e não um especialista das ciências da educação, mas, pelo modo peculiar como concebeu e empreendeu a luta de libertação nacional, não só se tornou num “pedagogo da revolução”, que “encarnou perfeitamente o sonho de libertação de seu povo e os procedimentos políticos pedagógicos para a realização desse sonho” (Freire, 2008, p.5), como encontrou na educação uma das “armas, Amílcar Cabral patenteia o contributo decisivo da “arma da teoria”, isto é, do conhecimento científico, para o sucesso das revoluções de libertação nacional, lembrando que: Se é verdade que uma revolução pode falhar mesmo alimentada por teorias perfeitamente concebidas, ainda ninguém realizou uma revolução vitoriosa sem teoria revolucionária”. A ligação teoria-prática em Amílcar Cabral evidencia-se na sua própria atuação como líder, que aliava o discurso esclarecido ao imperativo de o levar à prática, exortando, do mesmo passo, cada combatente no sentido de “pensar para agir e agir para melhor pensar” (Cabral, 1974). 

A conceção multifacetada de aprendizagem defendida por Cabral, há cerca de quatro décadas, mantém a sua atualidade, ao pôr em relevo o imperativo de se aliar o conhecimento experiencial, a aprendizagem social, o saber científico e a aprendizagem ao longo da vida. Formulou esta conceção em termos simples. Como era, de resto, o estilo discursivo de Cabral, de modo a fazer-se compreender pelos combatentes; “Aprender na vida, aprender junto do nosso povo, aprender nos livros e nas experiências dos outros. Aprender sempre”

A ideia cabralista de “aprender sempre "corresponde ao slogan, muito em voga, hoje em dia nos discursos educacionais, de “aprendizagem ao longo da vida”, entendida como toda a atividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, com o objetivo de melhorar os conhecimentos, as aptidões e competências, no quadro de uma despectiva pessoal, cívica, social e/ou relacionada com o emprego.

Ora, “uma sociedade que se liberta verdadeiramente do jugo estrangeiro retoma os caminhos ascendentes da sua própria cultura que se alimenta da realidade do meio e nega tanto as influências nocivas como qualquer espécie de sujeição a culturas estrangeiras”, razão porque “a luta de libertação nacional é, antes de tudo, um ato de cultura. Dito de outro modo,“ se o domínio imperialista tem como necessidade vital praticar a opressão cultural, a libertação nacional é, necessariamente, um ato de cultura . Por seu turno, “ao nível individual e coletivo, a identidade é (…) expressão da cultura, sem deixar de ser influenciada por outros fatores...

Qualquer estudioso da obra escrita de Cabral - não tão extensa como poderia ter sido caso a sua vida não tivesse sido ceifada, tão prematuramente, a 20 de Janeiro de 1973 -fica surpreendido com a sua extraordinária capacidade de explicar questões de grande complexidade teórica através de uma linguagem simples e acessível aos combatentes, na sua maioria com baixo nível de instrução, o que faz dele um pedagogo nato.

José Carlos Baldé.
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