Ideias para reflexão
Temos consciência de quais são as prioridades do País, e também do novo
governo, e que as mesmas deverão passar pela segurança e sustentabilidade
alimentar, retoma e reforço da cooperação internacional, reformas setoriais,
nomeadamente nas áreas de justiça, segurança e defesa, investimento em setores
estratégicos,nomeadamente economia, energia, água e transportes, em áreas
sociais integradas que reportam à educação, saúde e ação social, bem como a regularização
de salários dos agentes da administração pública e o funcionamento do aparelho
Estado em toda a sua dimensão.
No entanto, o assunto que ora alocamos à presente reflexão não é
somenos importante face a atual situação do País e a necessidade da sua
capacitação e qualificação, permitindo dessa forma responder às questões
previamente levantadas.
Ora, a formação enquanto qualificação de recursos humanos é uma das
melhores ferramentas para o ajustamento das velas de um povo, pois é na
formação que estáa chave doaperfeiçoamento e desenvolvimento de uma sociedade.
A maior parte das vezes que ouvimos palavras como “Formação” ou
“Qualificação”estas referem-se à dimensão individual. Porém, a formação não é apenas
uma ferramenta pessoal: trata-sesobretudo de um mecanismo para a evolução dos
povos e das sociedades.
Os povos que se querem evoluídos, que pretendem reforçar-se
internamente, não podem menosprezar nem o valor da educação nem a relevância da
formação, entendida aqui como a qualificação de quadros e agentes do processo
de desenvolvimento.
É certo que cada um de nós procura valorizar-se como forma de aceder a
condições pessoais e sociais que nos elevem, mas é a própria sociedade que se constrói
e reforça com o sucesso dos seus indivíduos.Na governação, no mundo empresarial,
nas atividades extrativas e transformadoras, no turismo ou no mundo académico,
a qualificação é aquilo que separa o modesto amadorismodo arrojado
desenvolvimento de um país.
Em países desenvolvidos, onde existe uma forte vocação de ensino,
investigação e formação, os exemplos vêm da esfera empresarial. É aí que surgem
as modas, as técnicas e os aperfeiçoamentos. Porém, nos restantes países que se
querem modernizar, os exemplos vêm geralmente da componente política, melhor
ainda, das opções da governação. Ou seja, são os atores políticos que marcam o
padrão.
Tal como esses países, a Guiné-Bissau não foge à regra, nem os seus atores
políticos. Aliás, existe uma forte componente de afirmação políticas nesse
sentido que urge ter em consideração no aspeto social do País.
E formação porquê?
Porque formação é sinónimo de rigor e qualidade na ação. É essa ação
qualificada que faz a diferença entre ambientes estagnados e ambientes em
constante evolução.Nasce aí o exemplo político que se repercute nos sectores
produtivos e sociais, criando e alimentando uma escola de valorização,
sustentada na busca do sucesso.
A formação deve ser estimuladora do intelecto mas deve também moldar a
personalidade, tornando os indivíduos mais capacitados, confiantes e
mobilizados. Esse é um resultado que urge procurar porque nele se reflete a
evolução da sociedade, neste caso a sociedade guineense, como um todo.
Os desafios atuais, políticos e não só, obrigam a uma constante
adaptação às novas realidades. Nesse quadro, é essencial que a formação
desenvolva numa base de continuidade e articulação com as estratégias
nacionais, sejam elas políticas, sociais ou empresariais.
A título de exemplo, referimos a uma das metáforas mais interessantes
do comportamento humano, perante a adversidade fala-nos de um barco à vela que enfrenta a
circunstância de pararem alto-mar porque os ventos mudaram.A pergunta que se
coloca é quase óbvia: como devemos reagir? 1) Há o pessimista que se afunda na
depressão e acha que não há nada a fazer; 2) Há o otimista que tem esperança e
espera que o vento mude. Devemos seguir o exemplo de qual deles?
Se analisarmos bem, o primeiro nunca
sairá do mesmo sítio, vendo piorar cada vez mais a sua situação até ao desaire
absoluto. O segundo coloca-se na mão dos elementos e de condições externas, não
sendo nunca senhor do seu destino.
Não devemos seguir nem um nem o
outro! Devemos reagir como o realista: aquele que ajusta as velas de forma a
adaptá-las à nova direção do vento. Esse mudou o seu presente, olhando de
frente para o seu futuro.
Tal como o realista, os bons povos
têm sempre na mão a solução para os seus problemas. Possuindo o mais valioso
dos recursos – as pessoas – os bons povos só têm de ajustar as velas e seguir
com os ventos mais favoráveis.A formação
enquanto qualificação de recursos de humanos é uma das melhores ferramentas para
o ajustamento das velas de um povo.
Esta breve introdução é importante
para definir, enquadrar e orientar a necessidade de capacitação dos recursos
humanos que forçosamente tem de começar com amodernização do Estado,
administração pública e setor privado, com forte componente na formação e
qualificação dos seus agentes.
O investimento em Capital Humano e a Capacitação Institucional / Eficaz
Gestão do Setor Público e GoodGovernancesó
podem ser concretizados com a aposta nos domínios da Educação, Qualificação,
Formação, Ciência, Ensino, Tecnologia e Inovação de modo a garantir a diminuição
da Pobreza e a valorização do capital social; desenvolvimento económico e
social sustentável, com crescimento e emprego;desenvolvimento territorial
equilibrado das regiões e comunidadeslocais;desenvolvimento e modernização das
infraestruturas nacionais.
O Estado guineense precisa modernizar-se e com ele a Nação consolidar o
seu projeto democrático, mantendo estes princípios e orientar a sua ação na
procura constante do efeito multiplicador da relação qualificação/formação e
modernização.
Neste pressuposto, éimportante entender que não só os quadros externos são
contribuintes da competência e da qualificação, mas, também, os que se
encontram no terreno a desenvolver as suas competências,e em contacto
permanente com a realidade local, mesmo com grandes dificuldades de exercício
que lhes são inerentes e a falta de condições de trabalho, dão o seu máximo
para o progresso da Nação. Isso é de incentivar, fomentar e recompensar.
Por conseguinte, a formação e qualificação não se reservam apenas ao
campo técnico e/ou académico, mas também, profissionalizante e específicos das
atividades que o País carece. É de todo imprescindível reforçar essa questão no
seio da Nação para que se tenha em conta que o processo de transformação da
sociedade para o plano de desenvolvimento e progresso requer todo este conjunto
de capacidades e coloca-los ao serviço do bem-estar da comunidade.Aliás, sobre
este assunto é sempre importante reviver os ensinamentos de A. Cabral como
testemunho de quem sempre pautou por essa questão quando refere, no encontro de
Ensalma, o seguinte:
(…) "Para aquele que era mecânico, eletricista,
pescador, agricultor quando entrou na Luta, irão ser criadas condições para ele
continuar a sua atividade e viver o seu estatuto de combatente da liberdade da
Pátria. A nossa independência termina em Ensalma. Ela vai ser entregue à gente
que virá ao nosso encontro para a assumir. Essa gente é que irá começar a
cumprir o Programa Maior que é desenvolver a terra, tarefa maior e mais
complicada” (…).
É sem dúvida importante ter presente os ensinamentos e com ele fazer
resultar no plano nacional o verdadeiro ideal do homem e do construtor da nova
democracia e valores fundamentais da Nação.
Este artigo é assinado por mim e pelo meu caro amigo e colega Paulo
Colaço, um experiente e conceituado consultor/formador e analista político
Português a quem agradeço a amabilidade em aceitar o meu convite para tecer
algumas considerações sobre a questão ora abordada.
Lisboa, 30 de Abril de 2014.
Luís Vicente
(Pgd. Administração e Políticas Públicas)
Paulo Colaço
(Formador/Analista político)
(Consultor Banco de Portugal)
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