sábado, 19 de julho de 2014

A governabilidade e o equilíbrio de poder

Na verdade considero três aspetos fundamentais neste processo que tem dado um manancial enorme de adjetivos que inundam o léxico geopolítico guineense.

Em primeiro lugar é de referir a questão da inclusão e do enorme peso que a mesma evidencia no cenário governamental. Confesso que não tinha dado conta de um governo em que a lógica de participação política em cargos executivos fosse tão grande e transversal como neste caso em concreto. De salientar que essa participação foi concedida por um partido que acabara de ganhar com maioria parlamentar em condições que poderia o próprio governar sem coligação nem parceria.
Recordo ainda que, até há bem pouco tempo, o nível em que se encontrava a situação política guineense remetia para uma ausência de Estado e perturbação da ordem constitucional, de modo que era muito pouco evidente falar em democracia, governação e governabilidade. Hoje, com a conclusão do processo eleitoral e recente composição do governo, presenciamos uma revolução no conceito democrático que assiste o País, esperando que o caminho traçado seja o de ajustamento e do reforço das competências do Estado e da Nação.
Não obstante, quando refiro a participação em cargos executivos falo obviamente nos elementos que compõem o governo e a expressão pluralista que o mesmo toma. Ora, se está correto assim não sei e nem faço intensões disso, mas sei que a avaliação é a única forma de se ficar a saber, tudo dependerá da forma como o líder do executivo definir o modelo de governação, os objetivos traçados e as estratégias delineadas, sendo que é da competência do mesmo recorrer ao instrumento legal e de gestão que corporiza as reestruturações e/ou remodelações governamentais, conforme o cumprimento dos objetivos ou não por parte da sua equipa. Por outro lado, a avaliação do governo propriamente dito só ocorrerá daqui há quatro anos, conforme emana a Constituição da República, e o avaliador é o povo, ele é quem mais ordena através de sufrágio universal, livre, credível e justo.
Também não abordei e nem me atreveria a abordar com a S. Exa. Sr. Primeiro-Ministro as razões que estiveram na base da composição do seu governo, mas tive oportunidade, tal como todos vós, de ler em vários fóruns que o mesmo foi forçado a definir a composição da sua equipa por entidades externas ao próprio líder do governo. Confesso que não sei se é ou não verdade e se também tem fundamento político e/ou técnico, mas de uma coisa sei e tenho a certeza: “é importante dar espaço ao líder do governo, deixá-lo trabalhar com a sua equipa e acreditar que existe capacidade técnica e política para alavancar a Nação”. 
O que pretendo salientar com isto é o facto de existirem sem dúvida alianças políticas e estratégias comuns, algo que é normal e recomendável numa democracia que se pretende coesa. Na verdade, e a título de exemplo, quem acompanhou com alguma atenção todo o processo eleitoral para a liderança do PAIGC reparou que existiram acordos, parcerias e/ou alianças estratégicas que resultam, como o próprio nome indica, tratarem-se de uma ligação baseada na afinidade/identificação e visam criar uma relação de confiança que obedece a uma estratégia comum. Portanto, o impacto sobre as pessoas resulta pelo facto de que os parceiros devem colocar-se no lugar de cada um destes grupos de interesse e definir as vantagens e desvantagens que as alianças lhes poderão trazer, antecipando assim problemas potenciais e as possíveis soluções. Assim foi, resultou naquilo que todos sabemos, algo que me parece ter sido novidade no seio dos militantes do partido de Cabral, políticos da praça e até de alguma franja da sociedade civil, mas, também, algo que me parece aceitável e normal, que resulta de uma atividade política no verdadeiro sentido da palavra. Portanto, é importante ter presente que a política é feito de pequenos detalhes, de aproximações e de recuos, mas tendo sempre em conta o espírito patriota que garanta os interesses coletivos.

O segundo aspeto a realçar tem a ver com a dinâmica associada à escolha dos elementos não integrantes do partido com a maioria parlamentar para incorporarem o governo, caso em especial que demonstra humildade e espírito de unidade que se pretende para o País. 
Contudo, se por um lado demonstra abertura ao diálogo para uma estabilidade política duradoura, por outro deixa uma preocupação latente que é a enorme heterogeneidade e não tanto o peso enorme do PAIGC. A meu ver isso sim é arrojado e demonstra a capacidade e experiência política do seu líder em procurar novas formas de abordagem e do discurso político interno, criando espaço para um diálogo mais aprofundado com o exterior e vontade de reformar a visão e o conceito “Poder, Democracia e Participação Política” no seio desse grande partido.
A leitura que se retira de todo este processo de criação do governo de base alargado é que, neste momento, o mais importante de tudo é a estabilidade politica e governativa no sentido de demonstrar ao povo e à comunidade internacional que a Nação pretende ganhar o seu rumo, mas que para isso todos são chamados a dar o seu real contributo para a edificação plena que sustenta os pilares da coesão, unidade e esforço nacional.
Por conseguinte, também vejo uma grande oportunidade dada aos partidos políticos que, através das suas lideranças, assumiram pastas neste Governo, em “dossiers” estratégicos e de grande responsabilidade política e técnica, casos concretos da Justiça, Energia, Orçamento, Comunicação Social e Turismo. 
Sobre este aspeto, entendo que estão criadas condições para os tais governantes demonstrarem as suas reais competências, sentido de Estado e responsabilidades em matéria da defesa dos interesses da Nação e manutenção do equilíbrio de “poder”. Certeza que fazendo um bom trabalho, mesmo no quadro de um Governo de base alargada do PAIGC, com um projeto e linhas programáticas sustentados a priori pelo mesmo, projetará os líderes e partidos que representam, granjeando dessa forma mais eleitorado à sua causa. Daí entender também que indiretamente a democracia guineense acaba de ganhar outra forma de abordagem e de participação muito mais alargada do que tem tido até agora.

Por último, e em terceiro lugar, como não podia deixar de alertar, o que me parece também importante realçar é que face à participação alargada de quase todos os partidos com assento parlamentar, como também os que não têm representação nesse colégio, não vir condicionar o debate cordial e honesto que se pretende no seio da casa da democracia que é a Assembleia Nacional Popular. Para mim esta é a preocupação maior que merece maior atenção por parte da sociedade civil, pois a mesma carece de monitorização e de alerta constante, criando condições para que haja debate político sério e frontal, garantindo que os diplomas ali produzidos refletem o verdadeiro sentido da democracia.
Neste momento, importa sim o exercício da cidadania com sentido de responsabilidade e abraçar com firmeza e confiança os propósitos desenhados pelas autoridades do País. A Nação tem um longo caminho das pedras para percorrer. No entanto, só se caminha o caminho das pedras quando se põe as coisas a caminho! LV

Lisboa, 17-07-2014.
Luís Vicente
OBS: Todas as opiniões aqui editadas são da inteira responsabilidade do seu titular (autor)


Sem comentários:

Enviar um comentário

ATENÇÃO!
Considerando o respeito pala diversidade, e a liberdade individual de opinião, agradeço que os comentários sejam seguidores da ética deontológica de respeito. Em que todas as pronuncias expressas por escrita não sejam viciadas de insultos, de difamações,de injúrias ou de calunias.
Paute num comentário moderado e educado, sob pena de nao sair em público