quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Minha posição técnico-jurídica

Caros compatriotas.
Aproveito este momento para, publicamente, mostrar a minha posição técnico-jurídica perante esta situação política que se nos coloca, com base na minha interpretação dos preceitos constitucionais. 
Aos 12 dias do mês em curso, através do decreto presidencial nrº 05/15,o PR, com base no artigo 68.°, alínea g) da CRGB, demitiu o executivo liderado pelo eng. Domingos Simões Pereira. De acordo com o plasmado nesse dispositivo consta que, “o presidente da república pode demitir o governo em caso de grave crise política que ponha em causa o normal funcionamento das instituições da república, ouvido o conselho de estado e os partidos políticos com assento parlamentar”. 
Entretanto, podemos perguntar o que é, afinal, uma grave crise política? 
R: a grave crise política é uma situação difícil e grave que pode comprometer o desenvolvimento/ andamento ou a continuidade de um processo político. Que nesta situação em concreto está em causa o mau relacionamento entre o PRe PM. Sendo assim, uma vez demitido o governo constitucionalmente, o PAIGC tem direito e dever (estatutariamente) de indicar o nome de outra pessoa para ocupar o cargo do PM, que, na minha opinião, não deveria, ser o nome da mesma pessoa, líder do governo demissionário, uma vez que se trata das relações intersubjectivas.
 pode argumentar-se em defesa, que não deveria estar em causa as relações pessoais, mas sim institucionais…. Diria que nunca existiu e existirá um relacionamento bom, em circunstâncias nenhumas, entre as instituições, se a relação humana entre as pessoas que lideram as duas instituições não se dão bem. Portanto, um terá que não continuar, para se salvaguardar os interesses comuns. 
Ora, no que tange ao decreto nr 06/15, de nomeação do novo PM, Baciro Dja, nos termos da alínea g) do artigo 68º e 70º da CRGB, pelo pr, sem que seja o nome indicado pelo seu partido e sem que sejam ouvidas as forças políticas representadas na ANP. 
A minha posição é seguinte: 
O decreto de nomeação do PM é formalmente inconstitucional. 
Mas, embora seja inconstitucional, em nenhum preceito constitucional consta que o PR deve solicitar o partido vencedor para indicar o nome do PM. Na CRGB consta apenas que, o PR nomeia e exonera o PM tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidas as forcas políticas representadas na assembleia nacional (não foram ouvidas). O que quer, com isso, significar que o PM a ser nomeado pelo PR, deve pertencer o partido com a maioria parlamentar, que nesse caso é o PAIGC, vencedor das eleições legislativas e ouvidas as forças politicas com assentos no parlamento e só…. 
Do ponto de vista técnico diria que existe uma lacuna constitucional em relação a posição da pessoa, no seio do seu partido, a nomear, para ocupar o lugar do PM, pelo PR, deixando assim uma margem de manobra ao titular do direito de nomeação. 
Atenção! 
Essa margem de discricionaridade não justifica um "mar de rosa" concedido ao pr, pelo que o intérprete aplicador do direito deverá recorrer aos estatutos do partido vencedor das legislativas para proceder essa nomeação. Isto é, estatutos do PAIGC que pela inerência é o seu presidente que, exactamente, coincide com o PM demissionário. 
Bem, se considerarmos que há impedimento/ impossibilidade de relacionamento institucional causada pelo mau relacionamento entre o PM demissionário e PR, o mesmo partido deverá indicar o seu substituto, não fazendo isso o PR pode nomear um dos vice-presidentes, podendo assim ser por ordem decrescente (1° vice, em caso da impossibilidade, 2°, 3°, e assim sucessivamente) ouvindo as forcas politicas representadas na ANP. Ora não obedecida a determinação constitucional (audição das forças politicas representadas na ANP) o decreto padece de vício de inconstitucionalidade formal.

Porém, não deixará de se colocar um problema de ordem política, que tem a ver com o facto de que, não sendo o PAIGC que indicou ao PR o nome do Baciro Dja, este pode confrontar-se com a falta de apoio parlamentar suficiente para fazer passar o programa do seu governo. É por isso que a audição dos partidos políticos com assento parlamentar antes de nomeação do PM, no contexto da configuração de poderes na Guine-Bissau, é indispensável, a fim de o presidente assegurar-se que o primeiro-ministro que pretende nomear não encontrará bloqueios no parlamento. Não sendo o caso estamos perante um erro politico e jurídico (inconstitucionalidade formal) bastante grave do presidente da republica, na medida em que isso acabará por conduzir a dissolução do parlamento, coisa que é absolutamente inoportuno no contexto actual, na medida em que o pais terá dificuldades de obter meios que o permitam realizar eleições dentro do prazo.

Alias, se haver dissolução do parlamento, abrir-se-á um novo debate jurídico, de se saber se as eleições legislativas decorrentes da dissolução do parlamento devem realizar-se dentro de determinado prazo, ou se isso ficará ao critério do presidente.
Agosto 2015
Bernardo Mário Catchura
Licenciado em direito pela faculdade de Direito de Bissau
OBS: Todas as opiniões aqui editadas são da inteira responsabilidade do seu titular (autor)

4 comentários:

  1. Senhor Bernardo muito obrigado pelo esclarecimento um bom quadro deve faze estes analises para o bem comum dos nao sao juristas como eu e subscrevo na integra esta tua bela leitura e apreciaçao dos fatos.

    Lénine Semedo

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  2. O JOMAV deve não estar bem da cabeça!
    Um PR que não aceita os apelos mundialmente feito por ele e,continua a ignorar o seu povo,muito estranho atitude do PR.

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  3. O Problema que se coloca é que o PR, antes da nomeação dos membros do governo e passados 90 dias da governação, já tinha começado a atacar o governo (DSP) implícita e explicitamente! E isso a qualquer pessoa só cria uma certa reserva em relação a outra pessoa!... Exemplo disso é que o PR menospreza tudo de Positivo feito pelo Governo liderado por DSP, onde questionava se a vida de um país se resumia só em ter salários pagos, electricidade e água!

    Ora pergunto eu, que País consegue desenvolver-se sem estas coisas básicas? Porque é que o Governo em que o PR foi ministro das finanças, durante 2 (dois) anos, não conseguiu dar LUZ e Água durante 24 horas? Porque, se não era nada, utilizou o SLOGAN O HOMEM de 25 durante a campanha de eleições? Sejamos coerentes meus Compatriotas!

    Resumindo e concluindo, o PR só queria uma pessoa, como chefe do governo, que ele pudesse comandar a seu bel-prazer! Mais nada! Não venhamos com histórias disto ou daquilo! A vontade do PR, nota(va)-se desde cedo, era gerir o Governo, repito, a seu BEL-PRAZER!

    Agora cabe aos lesados (o Povo e o PAIGC) saberem defender os seus interesses! Pois um País nas mãos de uma única PESSOA e onde os políticos NÃO CUMPREM AS PROMESSAS ELEITORAIS é muito perigoso! Este país já foi DOMINADO por uma PESSOA quase 20 anos e o resultado foi o que todos nós OUVIMOS, VIMOS ou VIVEMOS! O final de tudo aquilo foi uma tragédia no ano 2009!

    Oxalá que a história não se repita!

    Como Cidadão, peço aos deputados que criassem uma lei que demitisse/destituísse qualquer titular de órgão de soberania que mentisse ao Povo e ou ao seu Eleitorado! Para isso, que bastasse só os registos sonoros e vídeos da campanha eleitoral e não só!

    OBS: Aproveito esta oportunidade para dizer ao Assessor de Imprensa do Presidente da ANP de que Assessoria escreve-se com dois "s"!


    Gabú Sara

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  4. Novo Governo e as movimentações na Guiné-Bissau

    PRS pode decidir viabilidade ou não do Executivo de Baciro Dja.

    Redacção VOA
    26.08.2015 17:12

    Na Guiné-Bissau, as movimentações políticas continuam, enquanto se aguarda que o primeiro-ministro empossado Baciro Djá apresente o seu Governo. Fontes da Voz da América revelam movimentações de bastidores entre os deputados dos dois principais partidos, o PAIGC, que tem 57 deputados, e o PRS, que detém 41 parlamentares.

    O Presidente da República José Mário Vaz e o primeiro-ministro Baciro Djá têm-se desdobrado em contactos para a formação do Governo, cujo atraso começa a provocar algumas inquietações.

    Entretanto, de acordo com as nossas fontes, o PRS, segundo partido mais votado, é considerado o fiel da balança para garantir a viabilidade de um novo Governo.

    Antes de demitir o Executivo de Domingos Simões Pereira no passado dia 12, o Presidente teria conseguido o apoio do líder do partido Alberto Nambeia, mas o PRS encontra-se dividido.

    Entretanto, o secretário-geral do partido e ministro cessante da Energia Florentino Mendes Pereira, está a complicar contas ao presidente do partido, Nambeia.

    Pereira também está preso aos compromissos políticos com Domingos Simões Pereira, e, segundo as nossas fontes, ele tem o apoio de 30 dos 41 deputados do PRS.

    A solução poderá ser encontrada apenas no sábado, 29, quando a Comissão Politica do PRS se reunir para tomar uma posição.

    Do lado do PAIGC, o líder Domingos Simões Pereira tem tido também vida difícil para controlar as bases do partido e os seus deputados face a investidas do Presidente da República e do primeiro-ministro Baciro Djá, também eles membros do PAIGC.

    Mesmo com esta difícil situação, fontes da VOA dizem que Simões Pereira ainda tem o apoio da maioria dos deputados e do presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, que tem uma confrontação política aberta com José Mario Vaz.

    A nível internacional, dois dirigentes do PAIGC encontram-se em Malabo, capital da Guiné Equatorial, para darem "explicações detalhadas" ao Presidente Teodoro Obiang sobre a situação política na Guiné-Bissau.

    O ex-ministro das Obras Públicas, José António Almeida, e o ex-secretário de Estado dos Transportes e Comunicações e porta-voz do partido João Bernardo Vieira foram designados pelo líder do partido, Domingos Simões Pereira, para darem conta a Obiang sobre o que se passa na política guineense.

    Por outro lado, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA) pediu nesta quarta-feira, 26, o respeito pela Constituição e a neutralidade das Forças Armadas da Guiné-Bissau na crise actual.

    Num comunicado, aquele órgão reiterou a “absoluta necessidade das Forças Armadas e de segurança se posicionarem do lado de fora desta crise actual”.

    “O Conselho sublinhou mais uma vez que esta situação poderia colocar em causa os avanços registados com a conclusão da transição e a realização das bem-sucedidas eleições legislativas e presidenciais em Abril e Maio de 2014”, lê-se no comunicado, segundo o qual esta crise política pode “dificultar a mobilização da assistência internacional que a Guiné-Bissau precisa para a sua recuperação sócio-económica”

    OBS: Alberto Nambeia amigo de "ONÇA"!

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