Universidade de Verão do PAIGC - Discurso de Cipriano Cassama

Aproveito
esta oportunidade para felicitar vivamente os organizadores deste evento pela
iniciativa, visão e sobretudo por terem escolhido a cidade berço de Amílcar
Cabral para sedear esta iniciativa.
Mas também,
seja-me igualmente permitido saudar os nossos ilustres hóspedes, que vieram de
tão longe para se associar a esta iniciativa, o que realça o lado bom da
solidariedade africana. O PAIGC e o povo guineense agradecem.
Saudação
especial para a comunidade de Bafatá, especialmente para os jovens, mulheres,
idosos, e crianças, e dizer-lhes para terem esperança num futuro melhor.
Camarada
Presidente do PAIGC, Eng. Domingos Simões Pereira,
Excelências,
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
Estamos
hoje aqui reunidos num fórum inédito, cujo objetivo é encontrarmos as melhores
saídas para continuarmos a promover novas ideias e novas esperanças para que nos
permita desenvolver de forma harmoniosa e sustentável o nosso país.
Ele tem
lugar num momento em que a sociedade guineense enfrenta a tentativa de
imposição de um regime ditatorial e muito particularmente o PAIGC que é sujeito
a um dos maiores ataques visando a sua destruição, pelo que urge, através de
uma reflexão profunda e objetivaencontrarmos melhores mecanismos para a sua
defesa, de modo, a retirar o partido e o país desta situação.
No caso
concreto do PAIGC a presente crise permitiu, em abono da verdade, fortalecer as
suas estruturas da base ao topo e possibilitou identificar clara e objetivamente
aqueles militantes que só se aproveitavam do Partido dos que acalentam amor,
dedicação, militância e convicção nos ideais de Amílcar Cabral e dos superiores
interesses da Guiné-Bissau.
Este
resultado foi capaz de se atingir graças à inteligente, dinâmica, sagaz e
equilibrada gestão da atual Direção Superior do PAIGC e muito em especial à
capacidade e inteligência do camarada Presidente Domingos Simões Pereira.
Por isso,
camaradas, o momento é de cerramos fileiras em torno da direção e dos valores
ideológicos que sustentam o PAIGC, disponibilizando-lhes toda a nossa energia,
fidelidade e sã militância, no sentido de podermos enfrentar e derrotar todos
aqueles que nos querem destruir, bem como o legado de Amílcar Cabral.
Camaradas,
Quero
sublinhar na minha modesta opinião que o principal desafio do nosso Partido, é
a reconciliação entre todos os seus militantes, o reforço da unidade, coesão
interna e a sua estabilização, de modo a consolidar o seu papel de maior força
política nacional e fiel da balança entre o presente e o futuro da
Guiné-Bissau.
Neste Dia
da Nacionalidade, data natalícia do nosso imortal líder, Amílcar Lopes Cabral, é
de toda a pertinência recordar o que ele então defendia, citamos: os dirigentes
e militantes do PAIGC devem ser figuras de referência em termos de moral e
comportamento ético, ou seja, os seus atos e as suas condutas devem
conformar-se com princípios e valores que o partido defende, fim de citação.
Revela assim
necessário que cada dirigente e militante do nosso grande partido traduza na
prática aqueles princípios e ideais que Amílcar Cabral preconizava, quer no
exercício daatividade privada e principalmente no exercício de funções públicas.
Caros
camaradas,
É verdade
que o PAIGC é um partido de massas. Contudo, este fato reforçar-lhe o dever de
selecionar os seus melhores militantes para cargos de responsabilidade, tanto
ao nível do Partido assim como do Estado. Isto porque, tem-se assistido de uma
forma sistemática a não observância das regras estatutárias e dos demais
instrumentos que orientam a vida do Partido, bem como a sua conduta nas funções
no aparelho de Estado.
Outrossim,
há uma clara resistência por parte de certos militantes e dirigentes do Partido
relativamente às reformas internas, que são absolutamente imperiosas levar a
cabo, de molde a imprimir nova dinâmica no seu seio.
Não podemos
continuar a ter dirigentes e militantes que elegeram o clientelismo, nepotismo,
divisionismo e proveito pessoal, como forma de fazer política, criando
sistematicamente problema sua estabilidade interna e governativa.
A este
propósito, o Camarada Cabral dizia, citamos, nem toda gente é do PAIGC. De
facto, isso ficou provado ao longo da história passada e presente do PAIGC. Pois,
só isso justifica a crise atual que o Partido enfrenta e a sua destituição
dopoder que ganhou legitimamente nas urnas.
Não se pode
conceber nem tão pouco tolerar que um militante, quanto mais um dirigente,
possa pôr em causa as deliberações dos órgãos legítimos do partido, assim como
a vontade da maioria dos seus militantes e membros, ao ponto de votar o partido
à oposição.
Por isso
hoje, infelizmente assistimos com muita mágoa e elevada preocupação a forma
distorcida como um grupo, felizmente de ex-dirigentes e ex-militantes do nosso
grande partido atuaram contra o PAIGC.
Caros camaradas,
Agora
voltando ao interior das preocupações desta Universidade de Verão, quero
apresentar em jeito de contribuição para as reflexões que os participantes irão
partilhar, as seguintes propostas:
A
reforma do sistema político, que passa necessariamente pela redução drástica do
número de partidos políticos hoje existentes, e o reforço das condições
exigidas para a criação de novos partidos políticos;
Estabelecer
critérios de acesso aos centros de decisão do Estado;
Criar
critérios mais rigorosos no que tange à indigitação dos candidatos a deputados
a Assembleia Nacional Popular;
Melhorar
a capacidade institucional das entidades supremas de controlo das contas do
Estado;
Efetivar
a responsabilização por atos de desvios de recursos do Estado;
Priorizar
e alargar o ensino básico de qualidade e excelência no país e melhorar os
currículos escolares introduzindo matérias relacionadas com a cidadania e
direitos humanos, de molde a formar o homem guineense de amanhã;
Investir
no reforço do controlo em matéria de ingresso e acesso à função pública;
Analisar
a possibilidade de criminalização do enriquecimento ilícito;
Abolir
a prescrição penal para crimes contra o património de Estado;
Realização
urgente de eleições autárquicas e reforço da capacidade financeira do setor
privado de forma a diminuir a pressão sobre a Administração Pública Central;
Investir
na participação dos cidadãos no controlo da gestão dos dinheiros públicos,
através do sistema de orçamento aberto.
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Como é de
domínio publico o nosso sistema jurídico-constitucional repousa no Princípio da
separação dos poderes, portanto, o legislador constituinte em nenhuma
circunstância pensou que os titulares dos órgãos de soberania usariam de ma fé
as suas atribuições constitucionais e legais para fazer da Constituição
instrumento de guerra, como atualmente assistimos.
É meu
entender que o problema da instabilidade não reside apenas nas lacunas
constantes na Constituição, mas sim na fraqueza dos nossos dirigentes e no uso
da Constituição como arma de arremesso político.
Não conheço
nenhuma Constituição perfeita, por isso, os dirigentes deste país têm sim que se
adaptareme se submeterem a Constituição não o contrário, e onde ela aparente
alguma obscuridade ou omissão devem apelar os princípios de boa-fé, bom senso
para a interpretar e integrar de forma positiva, e não desvirtua-la em nome dos
interesses pessoais ou de grupos, como tem vindo a acontecer atualmente.
Camaradas Dirigentes, Militantes e
Simpatizantes do PAIGC
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Temos que
concordar que, tomando em consideração à nossa realidade, à mulher tem sido
reservado o papel subalterno na nossa sociedade, apesar da relevante e
preponderante tarefa que desempenha na comunidade, pelo que se afigura
necessária a discussão e eventual adoção da Lei de Paridade, com o objetivo de
proporcionar uma maior e melhor participação das mulheres na vida política.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Outro
assunto relevante e que reclama um debate público de urgência prende-se com a
reforma da Lei-Quadro dos Partidos Políticos e Lei Eleitoral.
No que
tange à primeira, é fundamental fixar critérios mais restritivos em matéria de
criação e legalização de partidos políticos, bem assim há toda uma necessidade
de, sem violação do princípio do pluralismo político, introduzir novos
critérios e executar os já existentes quanto à criação e subsistência dos
partidos políticos.
Outrossim,
afigura-se importante analisar os desajustamentos que o método de Hodnt provoca
na distribuição dos mandatos, e equacionar a possibilidade de o referido método
ser complementado com o sistema de círculo nacional que favorece uma melhor
distribuição dos mandatos.
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O PAIGC
hoje, após mais de 20 anos da abertura democrática, pese embora nunca perdendo
a sua matriz ideológica, deve atuar no sentido da defesa intransigente dos
valores da ética e da moral como vias únicas para a transmitir a sociedade e ao
Estado guineenses.
Na verdade,
a chamada ‘mercantilização do Partido’ é uma realidade a banir dentro do nosso
Partido.
O PAIGC tem
que ser capaz e ter a coragem de fazer uma triagem profunda, principalmente em
virtude da atual crise político-institucional, dos militantes que se socorrem
do partido para tirar proveito próprio, àqueles que olham para o partido apenas
como um meio para atingir os seus fins, daqueles verdadeiros militantes
defensores acérrimos da ideologia de Cabral, e que estão sempre disponíveis
para abraçar o combate político em defesa do Partido e do seu modelo de Estado.
Só assim o
Partido voltará às suas origens ideológicas, para o bem da Nação guineense.
Caros Camaradas,
Ilustres Convidados,
Senhoras e Senhores,
Relativamente
ao tema PAIGC e as perspetivas de desenvolvimento, só tenho a dizer que a
renovação constitui fator decisivo para a transformação de qualquer estrutura
de uma organização. Qualquer organização, seja ela qual for, que não renove
corre sérios riscos de ser ultrapassado pelas dinâmicas do desenvolvimento.
A
vitalidade do Partido necessita da intervenção e de uma maior participação dos
jovens e das mulheres, o que implica a sua integração nos centros de decisão e
de definição de estratégias do Partido. Aqui deixo toda a minha solidariedade à
JAAC e, à semelhança daquilo que aconteceu com à UDEMU que acabou de organizar
recentemente com sucesso o seu congresso com eleição por Consenso da sua
Secretária-Geral, encorajo os nossos jovens militantes e enveredar pela
realização do Congresso de molde a dar uma maior vitalidade a organização.
Preocupa-os
também a situação dos nossos jovens que são formados nas nossas instituições
universitárias e internacionais e que na sua esmagadora maioria não têm futuro
definido, pois não uma política de enquadramento que lhes permita fazer
desabrochar a sua capacidade, fazer crescer o país em termos de desenvolvimento
e de riqueza e proporcionar as melhores condições para erradicarmos a pobreza e
o subdesenvolvimento.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A sociedade
guineense que pretendemos construir obriga a que o Partido tenha a coragem de
abrir-se ao exterior, congregando novos valores fora do arco partidário, e
contributos dos mesmos com vista a robustecer as suas propostas de governação.
Nesta
senda, papel relevante deve ter a CONQUATSA enquanto órgão pensante do Partido
e estrutura de apoio à Direção.Contudo, neste momento crítico que o PAIGC e o
país vivem, sendo atacado pelo Presidente da República e alguns dissidentes do
partido, denotou-se total ausência desta estrutura, silêncio este que concedeu
espaço a outras tendências para falarem em nome de
quadros do Partido, afrontando-o a ele e a sua Direção.
Por outro
lado, é com alguma inquietação e preocupação que se vive o clima de divisão e
desunião que infelizmente se verifica no seio deste conglomerado de quadros do
PAIGC. Situaçãoestadeveras repugnante em vista aos objetivos preconizados pelo
Partido.
Contudo, de
registar, em abono da verdade, que a situação tende a melhorar pelo que se
incentiva a continuidade na construção de uma atmosfera de união e de
convergência dos militantes e amigos que integram esta estrutura primordial para
o funcionamento e crescimento do Partido.
Caros camaradas e amigos,
Esta
Universidade, que apelido de “Universidade
do Setembro Vitorioso”, deve servir como elemento catalisador de novos
valores para o PAIGC e na afirmação do seu retorno à linha de Cabral, tão
claramente evidenciada e reforçada aquando da 1ª Convenção Nacional do PAIGC.
A
realização da Universidade de Verão do PAIGC-CONQUATSA, reflete a nossa grande
vontade dedar continuidade ao amplo espaço de diálogo e ações que a 1ª Convenção
Nacional proporcionou e que consideramos importante para a inovação, promoção e
desenvolvimento do nosso glorioso partido PAIGC.
Espero que,este
Projeto Dinâmico e Integrado, da Universidade do Verão continuará a trabalhar
no sentido manter o PAIGC como uma família de massa, mais forte, eficiente, com
uma juventude de indiscutível qualidade e saber, que permitam fomentar a
permuta de conhecimentos e de ideias, o intercâmbio de opiniões, mas sobretudo uma
extraordinária vontade de criar consensos dentro das fileiras da família
libertadora, com as suasdiversidades e pluralidadede opiniões.
Camara Presidente, Dirigentes e Simpatizantes
do PAIGC,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Permitam-me
voltar à situação política prevalecente no nosso país.
Em termos
legais e constitucionais o atual governo não existe e todos os seus atos são
nulos. Por esta razão, registamos com alguma apreensão a sua continuada e
irresponsável tomada de decisões que passam nomeadamente pelas nomeações e
exonerações, assinaturas de acordos internacionais, contração dedívidas, criação
de zonas francas de duvidosos financiadores, criando leis, entre outras, quando
a sua função era exclusivamente a de mera gestão.
Como se
todas estas atrocidades não bastassem, o governo, com o beneplácito do
Presidente da República e branqueamento do Senhor Procurador-Geral da
República, furta-se descaradamente ao controlo desta Casa Parlamentar.
Porém, a
ANP como reiteradamente tem dito, assim que for resposta a normalidade
institucional, serão sindicados todos os atos e contratos praticados por este
governo constitucional e ilegal, e apuradas das consequentes responsabilidades.
Por outro
lado, como consequência da irresponsabilidade que resulta desta crise, os ganhos
e as esperanças advindas dos resultados conseguidos numa histórica “Mesa
Redonda de Bruxelas” foram pura e simplesmente jogados ao lixo e o “Terra
Ranka”, um dos projetos verdadeiramente de desenvolvimento concebido nas quatro
décadas de independência da Guiné-Bissau e que mereceu de todos os quadrantes
nacionais e internacionais um respaldo sem precedentes, foi substituído por um
outro que se apelidou de “Mon na Lama” e que se centrou pura e exclusivamente
num projeto caseiro de cultivo de arroz e sem impacto na economia e no
desenvolvimento do país no seu todo.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Esta
Universidade precisa de se debruçar sobre estas situações acabadas de
descrever, a título de contribuição pessoal, e apresentar as suas teses de modo
a ajudar o futuro governo a encontrar os melhores caminhos para subverter em
prol do país e do povo guineense tudo, em contraposição a tudo o que estamos a
perder em nome de uma ditadura sem futuro e de uma desenfreada rapina do erário
público, que deviam ser utilizados em proveito comum na luta pela erradicação
da pobreza.
Não posso
deixar de lançar um olhar de alerta sobre uma das grandes preocupações que a
ANP tem em carteira, que está relacionada com as questões da proteção da
família e muito particularmente a problemática dos idosos da nossa terra.
Ora,
enquanto órgão representativo do povo, irá organizar uma jornada parlamentar
dedicada aos idosos e subordinada ao tema: “Problemática dos idosos – desafios e perspetivas”, que, esperamos,
permitirá diagnosticar e encontrarmelhores caminhos e soluções que levem a uma
proteção deste vulnerável núcleo da sociedade guineense.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Apesar de
todas as adversidades e dos cenários sombrios que acabei de enunciar, quero
transmitir uma mensagem de esperança ao povo guineense, de que o esforço
convergente de todos os amantes desta terra, cultores de um ambiente de sã
convivência e respeitadores das regras democráticas e do Estado de direito, serão
capazes de devolver alegria, tranquilidade, paz, desenvolvimento e bem-estar a
este martirizado povo.
MUITO
OBRIGADO!
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