segunda-feira, 11 de julho de 2022

Gabu, o centro comercial da Guiné-Bissau deixado ao abandono pelo Estado

A uma distância de 263 quilómetros de Bissau, Gabu, Nova Lamego na época colonial, é a capital da região com o mesmo nome, e a única da Guiné-Bissau que faz fronteira com dois países, o Senegal e a Guiné-Conacri.
Um novo hotel antes de se entrar em Gabu, nordeste da Guiné-Bissau, marca o mote da cidade dos negócios, onde o transporte mais utilizado são as motorizadas, mas os burros ainda carregam mercadorias.

A uma distância de 263 quilómetros da capital guineense, Gabu, Nova Lamego na época colonial portuguesa, é a capital da região com o mesmo nome, e a única da Guiné-Bissau que faz fronteira com dois países, o Senegal e a Guiné-Conacri.

A sua posição geográfica tornou-a no centro comercial do país, mas está isolada de Bissau devido à degradação das vias rodoviárias.

Na cidade, durante o período da manhã, o movimento é grande, o trânsito é intenso e prejudicado pelas más estradas que existem em toda a cidade e que há anos que não sabem o que é o alcatrão.

As primeiras chuvas já provocaram verdadeiros lagos pela cidade, que são minuciosamente contornados por condutores de viaturas, motorizadas e transeuntes.

Há edifícios em construção, que mais tarde se vão transformar em estabelecimentos comerciais, dois estabelecimentos bancários, restaurantes, bares, farmácias e muito comércio.

"Há três meses que não há luz", diz à Lusa um habitante da cidade, para elencar mais problemas. Mesmo quando havia eletricidade, era fornecida durante algumas horas e sempre durante o período da noite.

Os painéis solares são vendidos em todo o lado.

"Hoje vão instalar um na minha casa. A minha filha enviou-me dinheiro de Portugal", explica este habitante. Assim, pelo menos, pode ligar a ventoinha. Há três dias que não chove na cidade e o calor aperta e a humidade aumenta.

Gabu aguarda o final do projeto de eletrificação sub-regional e que envolve também o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Conacri. O Governo espera que este esteja concluído até ao final deste ano.

Mas as promessas eleitorais ouvidas em 2019 perderam-se nos últimos três anos. Tudo continua igual. Não há luz, não há água, não há universidade, não há escolas públicas em número suficiente. Não há Estado. A exceção é o investimento feito pelo setor privado.

Ao início da tarde, todos os departamentos de Estado já estavam encerrados. Tudo o que é estatal está degradado, com exceção do hospital e centro de saúde que dá assistência ao projeto de redução da mortalidade materna e infantil.

A chegada de uma nova governadora regional intensificou o movimento no edifício do Governo Regional. Todos querem ver, todos querem perceber. Afinal, há anos que não era nomeada uma mulher para o cargo.

Com um Estado "tão fraco", a cidade é controlada pelos comerciantes, quase todos estrangeiros e que já representam a maior parte da população da cidade.

"Aliás, em Gabu, os da Guiné-Conacri dominam o comércio em geral, os nigerianos têm alguns restaurantes e o negócio das bebidas, os mauritanos as farmácias e os nar [contentores de pequeno comércio onde é possível comprar de tudo um pouco] e os senegaleses vendem roupa e sapatos no mercado”, explica à Lusa um funcionário público.

Nas ruas, nem português, nem francês, o fula é a língua mais ouvida, com algum crioulo à mistura.

Comunidade fula da Guiné-Conacri
Aliás, o fula já está a influenciar o crioulo, explica à Lusa um funcionário de uma organização não-governamental. Agora diz-se "patim passa" (com influência do fula da Guiné-Conacri) em vez de "disam passa” (deixa-me passar, em crioulo), exemplifica, referindo que é uma tendência que também está a acontecer em Bissau.

Mas a comunidade fula da Guiné-Conacri representa a maior parte dos estrangeiros em Gabu e quase todos têm nacionalidade da Guiné-Bissau.

"E também votam", diz à Lusa um empresário guineense.

Aliás votam na Guiné-Bissau e na Guiné-Conacri. O mesmo empresário considera que uma das razões para o antigo Presidente da Guiné-Conacri Alpha Condé ter encerrado as fronteiras com a Guiné-Bissau durante o período eleitoral foi para impedir a comunidade fula de participar nas eleições.

A comunidade fula oriunda da Guiné-Bissau pratica um ramo do islamismo sunita, conhecida por wahhabismo, uma linha mais conservadora e puritana, patrocinada pela Arábia Saudita, e acusada de ser a razão da desunião dos muçulmanos no mundo.

Convivência
Mas, em Gabu, a população contactada pela Lusa diz que a convivência entre as várias religiões e comunidades estrangeiras é pacífica e de tolerância, apesar de os fulas da Guiné-Conacri serem acusados de ser desorganizados, não levarem os filhos à escola e terem poucos cuidados de saúde, incluindo não aceitar vacinar as crianças.

"Só pensam em comércio", diz um jovem guineense de Bissau, que está há alguns meses a trabalhar em Gabu.

Questionado sobre as impressões que tem da cidade, o jovem lamenta o analfabetismo.

"Aqui há muitas pessoas que não sabem ler nem escrever, há muitos analfabetos. Largam a escola por causa da campanha de caju, porque têm de ganhar dinheiro", afirma.

Com as eleições legislativas marcadas para 18 de dezembro, Gabu vai ser palco de mais movimento de pessoas e de dinheiro. E os habitantes esperam para ver se as promessas se concretizam ou se os políticos guineenses só querem os votos da comunidade para ficar tudo na mesma.
Rispito.com/DW, 11/07/2022

1 comentário:

  1. Gabu suma tantos utrus localidades na continua nes stado pa tchiu tempo nquantu no ca mplementa autarquias locais y consequente realizacon de eleicoes autarquicas.

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