terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

/Umaro Sissoco Embaló entre reconhecimento internacional e atropelos à democracia

O mandato de Umaro Sissoco Embaló, que tomou posse há três anos, tem sido marcado por um forte activismo diplomático e crescente visibilidade a nível internacional, mas também por múltiplas denúncias de atropelos aos direitos humanos e à democracia.

A Guiné-Bissau com Umaro Sissoco Embaló, que preside, de forma inédita, à comunidade regional, a CEDEAO, tem-se desdobrado em múltiplos contactos internacionais, incluindo deslocações à Ucrânia ou à Rússia.

No entender de Aristides Gomes, antigo primeiro-ministro guineense, esta projecção internacional de Bissau não tem, porém, grande mérito próprio e fica-se a dever à nova ordem multipolar onde o direito internacional ou os direitos humanos não são, necessariamente, critérios fundamentais para as relações internacionais dos Estados.

"A diplomacia guineense surge como uma diplomacia activa po

rque todos estes países estão a ser solicitados pelos Estados Unidos, pela China, pela Rússia, pela Turquia, pelos Emirados árabes unidos. Hoje em dia, portanto, há uma existência multipolar de influência internacional com novas potências que surgem. Por isso é que a Rússia está a lutar para poder manter a sua potência, tendo em conta a expansão da própria NATO e, nessa perspectiva, a Rússia foi até agredir um país que é a Ucrânia. É nessa perspectiva dessa recomposição multipolar, no plano internacional, que nós devemos enquadrar esta situação actual em que os países, os regimes mais ditatoriais, com uma vocação mais autocrática têm um espaço aberto para poderem mostrar a sua verdadeira dimensão de regimes autocráticos, como a Guiné-Bissau. E, portanto, não há nada de paradoxal, é uma realidade e nós temos de fazer face a essa realidade", avançou Aristides Gomes.

Foram feitas várias denúncias de raptos e espancamento de cidadãos e figuras públicas críticas do regime. A ONU questionou a Guiné Bissau sobre o caso do comentador político e advogado Marcelino Intupé, responsável pela defesa dos acusados no caso da tentativa de golpe de Estado de Fevereiro de 2022, espancado em sua casa.

Fernando Vaz, porta-voz do Governo, reagiu, lembrando que o Presidente condenou esse acto.

"O próprio Presidente e o Governo condenaram essa agressão e as autoridades estão a investigar. Dizer que há uma mão oculta, é preciso provar. é fácil a oposição fazer esse tipo de acusações, mas as provas é que nós não vemos."

Fernando Vaz acrescentou ainda:

"O presidente Umaro Sissoco sempre defendeu os direitos humanos. Somos um país em que acontece, como em qualquer outro país, um ou outro atropelo, mas que não são fundamentais e não põem em causa a democracia interna e os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Essas estão garantidas, por isso mesmo é que essas pessoas falam e fazem denúncias, sem nexo, sem provas, sem factos. Quando denunciam ter sido o Governo ou eventualmente o Presidente a estar por detrás [de atropelos aos direitos humanos], é preciso provar isso."

Umaro Sissoco Embaló veiculou a mensagem de que, esta, é a "geração do concreto". Questionado sobre o desenvolvimento económico do país e o bem-estar dos guineenses, o porta-voz do governo Fernando Vaz afirmou que o governo "fez de tudo" para combater a inflação, mas que a conjuntura internacional, como a guerra na Ucrânia, dificultou o desenvolvimento da economia.

"A conjuntura internacional é de retracção. Os factores são externos e depende muito do mercado itnernacional e o mercado não tem sido favorável este ano. Contudo, há um programa com o Fundo Monetário Internacional, que não existia desde 2017, há uma retoma com o Banco Mundial, e estes organismos não fariam confiança ao governo guineense se não houvessem indicadores promissores e indicadores positivos. O que as famílias ressentem é fruto da inflação dos produtos de primeira necessidade, consequência da guerra na Ucrânia. Somos um país extremamente dependente, importamos quase tudo e isso reflecte-se no bolso das nossas famílias."

O porta-voz do Governo realçou também que "uma série de obras públicas estão em curso para refazer as estradas", com "financiamento garantido", nomeadamente em Bissau, "uma cidade completamente esburacada, abandonada desde a independência até aos dias de hoje".

Segundo ele, estes exemplos traduzem uma boa gestão do financiamento público, apesar de uma dívida pública ainda muito elevada, que representa 51% do PIB da Guiné Bissau. 
ANG/RFI

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