padre diz que discursos de ódio tendem a ser reproduzidos na Guiné-Bissau
O ódio faz parte do discurso político e “tende a ser reproduzido na Guiné-Bissau de forma geracional”, disse hoje o padre guineense Domingos Fonseca, presente numa conferência em Lisboa.
“Ninguém nasce a odiar outra pessoa (…) As pessoas aprendem a odiar. E se o podem fazer, também podem ser ensinados a amar”, disse o padre Domingos Fonseca, servindo-se das palavras de Nelson Mandela, homenageado na conferência promovida pela Câmara de Lisboa para assinalar a passagem na quarta-feira de 100 anos sobre o seu nascimento.
Para o padre Domingos Fonseca, as forças políticas da Guiné-Bissau recorrem atualmente “ao vício do cidadão comum” para fragilizar a sociedade, onde diz existir um "clima de desconfiança entre atores sociais e políticos”, opinião reforçada por Osíris da Silva Ferreira, juiz do Supremo Tribunal da Guiné-Bissau, para quem a “má governação é patente”, aliada à corrupção.
“Após a independência, praticamente nenhum governo chegou ao fim do seu mandato, porque existe uma desestruturação administrativa. Temos uma Constituição que prevê o princípio de separação de poderes, mas as estruturas nacionais não o respeitam”, disse Osíris da Silva Ferreira, acrescentando que muitas instituições são conduzidas de forma a manipular as regras e normas sociais.
O juiz, envolvido, tal como o religioso, em iniciativas para a resolução de conflitos na Guiné-Bissau, indicou que o fim destas disputas pode estar nas mãos dos jovens: “Não podemos ir para o processo de reconciliação sem a formação integral da nossa juventude, que possa ter o seu papel fundamental na reviravolta de todo este processo”.
“Temos de aceitar o passado, conviver com o presente e perspetivar o futuro”, num “processo inclusivo e participativo”, afirmou Osíris da Silva Ferreira.
O juiz e o padre Domingos Fonseca não hesitaram em denunciar situações de “má governação”, “interesses” e outros problemas presentes a nível político e social na Guiné-Bissau, perante convidados de vários outros países na conferência sobre o legado de Nelson Mandela nos processos de paz e reconciliação em zonas de conflito.
Rispito.com/Lusa, 16-07-2018
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