sexta-feira, 3 de abril de 2020

A FOME ESPREITA ATRÁS DO COVID-19

A imagem pode conter: Nelvina Barreto, selfie e closeupComo garantir a segurança alimentar da população em tempos de crise sanitária? 
A Guine Bissau não foi poupada a pandemia causada pelo covid-19, acusando neste momento 9 casos positivos, de acordo com os dados oficiais.
Medidas de prevenção a nível sanitário estão a ser tomadas, embora a sua eficácia e aderência popular sejam questionáveis. De momento todas as atenções e mecanismos disponíveis orientam-se para a sensibilização da população sobre os cuidados a ter para evitar a doença e/ou garantir que ela não se dissemine por todo o Pais.
Naturalmente existe muito por fazer e correções importantes a introduzir em termos de respostas ao surto epidémico. Essas medidas não devem limitar-se a declaração do estado de emergência nacional, cujas consequências poderão causar mais danos do que benefícios. Contudo, existem profissionais com mais autoridade e competência na matéria para apontar caminhos e propor soluções consentâneas com o contexto em que vivemos.  

E é aqui que gostaria de chamar a atenção para um aspecto da crise que me parece estar a ser negligenciado neste momento.
A maioria da população da Guine Bissau, perto de 70%, vive em zonas rurais e tem como principal sustento a pequena agricultura familiar, ocupada essencialmente por duas culturas predominantes: o arroz e o caju.

i. O arroz é o principal produto da cesta básica dos guineenses. Estima-se a produção nacional em cerca de 150 mil toneladas por ano, contra um consumo de 200 mil toneladas. O deficit alimentar nacional varia de 45 a 60 mil toneladas por ano. Perto de 40% dos cereais consumidos no Pais são importados. 
ii. A maioria das famílias guineenses depende da campanha da colheita do caju para comprar comida, vestuário e outros bens durante o resto do ano. Ora, sendo o caju uma commodity apreciada sobretudo pelos consumidores europeus e americanos, em época de crise e por não ser um bem essencial, a sua procura irá naturalmente diminuir.

Quais os meios de mitigação que podem ser encontrados para fazer face a uma conjuntura nacional e global adversas?
  • 1- Em todo o país, em parceria com as agências do sistema das NU e com o apoio de projectos em curso financiados por algumas organizações internacionais como a União Européia, o Banco Mundial e o BAD, proceder a um rápido  levantamento para identificar as famílias em estado de carência extrema, para organizar a transferência de dinheiro que permitirá a esses agregados adquirir bens de primeira necessidade;
  • 2 - Ás comunidades das zonas rurais que vivem essencialmente da atividade agrícola, distribuir sementes de arroz, milho, mancarra e feijão, através do INPA e apoiar com máquinas para o cultivo de maiores extensões de terra, para aumentar a sua capacidade de produção;
  • 3 - Distribuir igualmente animais de ciclo curto que poderá garantir carne necessária para a dieta alimentar e simultaneamente servir de fonte de renda;
  • 4 - Reabilitar com urgência  os silos existentes em todas as regiões para permitir o armazenamento das colheitas;
  • 5 - Estando em plena campanha do caju, deverão ser informados os produtores, com o apoio das ONGs e cooperativas  locais, para secar convenientemente e estocar a castanha de caju, de forma a não ganhar humidade;
  • 6 - Mobilizar recursos junto aos parceiros internacionais para adquirir a castanha de caju produzida pelas famílias, aguardando que o comércio internacional se recomponha e que possa então ser vendida por um bom preço;
  • 7 - Fazer campanhas de sensibilização e de informação através das rádios comunitárias e em línguas nacionais, sobre a necessidade de fazer poupanças para garantir a provisão de alimentos durante pelo menos 6 meses. 

O objetivo principal é fazer da luta contra o coronavirus e contra a fome, o mesmo combate!
Nelvina Barreto
02.04.2020

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